quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

TRAINEIRA

Comecei a interpretar o mar
longe dessa Europa distante
as petingas lúcidas do pensamento
filhas precoces das marés.
Mas tu não acreditavas
que as ondas deste meu litoral
traziam seixos e trazem conchas
para eu enfeitar os teus lábios.

Comecei a escrever o mar
as redes áridas do ciúme
enquanto o pseudónimo da emoção
juntava as línguas à luz dos corpos
implosão sonâmbula das águas
nas sandálias indefesas do peixe-aranha.

Chegvam traineiras carregadas de sardinha
de gaivotas e um punhado de homens.
Não sei de ti não sei de nós
nem do farol profundo na noite.
Comecei - que sentido a poesia sem ti? -
a secar o mar para encurtar a distância.


Nazaré, Agosto, 1983.

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