quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

RIO DESVIADO

O vocábulo foi-se estendendo suavemente
pelas terras da quinta dos aciprestes
derradeiro e metafísico dizem
pelas cegonhas privadas da boca
suavemente que a vida anoitece
no seu caminhar inquieto de girassol.

Sentia-se fatigado pelas horas de espera
no banquete dos deuses de barro e do ócio
nos punhos de renda espadas de latão
pelas cadeiras do caruncho oficial
da cinza cinzenta intransponível
leitor atento do livro enigma da semana.

Continuava para surpresa de todos
a olhar a praça vizinha suavemente
o rio desviado do desalento a promessa do vinho
as profecias de liberdades vigiadas
entre autocarros e camionetas de aluguer
cabines telefónicas e caixas de correio.

Suavemente partia para junto das colmeias
nas asas imensas do sonho
e com fome de madrugadas amenas
que o coração também anoitece
nas paredes anónimas do quarto vazio
no solar abandonado dos sentidos.

Budapeste, 20.12.1983.

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