quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ÚLTIMA SERPENTE

A faina nocturna dos pescadores
e as verdades mais antigas que o mar
de um verso suspeito e colectivo
do forte de um texto que queria melhor
os peixes metáforas do nada
de uma fuga cuidadosamente preparada.

Nem a luz da montanha nos perturbou
quando capturaram o perdigoto assustado
no final da festa adulta das cegonhas.
A boca essa certamente pousará
secreta na pedra da noite escura
como uma lesma a abrir os olhos
da ferrugem dos novos cadeados.

Nem nos tocámos coelhos mansos
com os dedos vestidos de electricidade
para te alongar por cima da luz
nos caminhos do autocarro do corpo.
O tempo não corre está coxo?
Partiram-lhe as pernas as muletas?
Sabe-se que o coração deixou o centro
em direcção ao subúrbio cinzento.

Incompleto dizem continua a vaguear
algures entre países novos e velhos
onde chegam todos os dias folhas rasgadas
e os ventos frios do mar já seco.
Eu não sei se vou acabar em ti
desenhar o silêncio bilingue e delicado
fazer lenta a noite clara passar por ti.


Budapeste, 11.01.1985.

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