quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

EL DESPERTAR (1975)

Para Elsa Urzua, Pintora chilena no exílio


Nessa manhã sem dificuldades existenciais
e comentários estrangeiros o ás de copas
animal de belo porte e caminhar elegante
pernoitou sem autorização nem convite
no interior do copo de água gelada
há quem diga física há quem diga servil
protegida por um pulôver azul e branco
que amália tinha colocado como senha dissimulada
na janela exterior do segmento mais débil
do sonho após a saída do inferno e do paraíso
da casa e da cozinha irreal da última serpente
afinal venenos inofensivos calmantes
para as consciências dos gatos da dialéctica.

Nessa manhã segundo agências de informação
bloquearam todos as pontes dos maiores rios
as telecomunicações internacionais
os portos e aeroportos mais afastados
alguém deixou a palavra no muro elsa
não sei se uma pêra se uma grinalda
as folhas da faia presas às mãos frias
junto dos seus olhos escuros entre ventos
e madrugadas alfinetes e sinónimos
do sonho latino-americano do exílio.

Nessa manhã não bebeu o café sem açúcar
com um copo de água da torneira
seria da sede da fome dos paliativos
guardou uma colher e uma espada
para que o ás de copas e o acordeão interior
mais verde mais vermelho pudessem repousar
as mãos no velho órgão da velha igreja.
Uma pedra secular peruana uma flor elsa
uma senha quase dissimulada porque canto
– una miríada de pájaros que deleitam mís oídos.

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