quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

MORTE DE UM IRMĂO

A Eduardo Rosário Dias
Capitão de Abril, Meu Irmão


Não são propriamente as flores
que voam pelo álbum restrito da cidade
ou as noites das festas comuns
que despertam no mundo da aparência
e se aconchegam fraternas no meu peito.

São os pássaros que se iludem
com a ilha ilegível da utopia
com o inacessível trigo do engano
e a saudade fotográfica da família.

Formigas que caminham na sombra
por toda a extensão da ausência
pela viagem finita do último reencontro.

Quando morre um amigo querido
na morte de um verdadeiro irmão
é a música já liberta das palavras
das ideias de sal com pimenta assumidas.

É a música que arrefece o corpo
agora frágil quase seco quase órfão
dos ensinamentos do mar
e da marinha de guerra de tirar um azimute.
É boa de longe mas longe de boa!

Quando morre um amigo querido
são todas as flores formigas e pássaros
a música de chuva feminina e de neves brancas
que vêem morrer com a colheita do anoitecer
à beira do rio com a sede por saciar.


Memória (1981) revisitada (1982)