quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A MULHER DO TÁXI

Para Ágnés


Voltava a mim através das tuas mãos
e dos teus olhos precoces de artista
aos meus cabelos de oito meses
sem visitar barbeiro. Dos nossos encontros
nas tardes das segundas e quintas-feiras.

Voltava a mim porque à noite
finalmente não estava só nem sabia dos gatos
da gambiarra do garrafão e dos guizos
de palavras começadas por g como ginjinha
e jasmim. Não sabia de ti nem estavas só.

Sentia-me emocionado pela sabedoria
pela ousadia das ideias a frescura da idade.
Falavas dos abismos preferidos de Van Gogh
e citavas Regnard – aquilo que não conseguimos
tomar amamos até à eternidade. Minha gazela!

Dizia-te enquanto vagarosamente te vestias
que só com palavras simples sabia responder
recordando a minha avó que acabava de partir.
Neto – O peixe quer-se bem passado a carne não!
O lume que a compre se a quer comer!

Afirmava sincero enquanto te mimava
– que as musas nem sempre ganham formas
perfeitas com destaque de capas de revista
que se tivesses vivido na Itália de então
serias tu a tela a cor o modelo dos clássicos.

Não era este o poema que queria para ti
esta lucidez de realismo sem metáforas
esquecendo as cinzas mornas do fogo no granito.
Lembras-te quando na passadeira da madrugada
a mulher do táxi nos olhou e nos sorriu?

Sem comentários: