quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

REPÚBLICA

Desse gato que me ofereceram
e eu deixei abandonado na berma
da estrada entre o pinhal do rei lavrador
a ocidente da praia dos nudistas
e as águas furtadas do palácio recuperado
recebi uma longa carta.

Casou-se lá fora com uma holandesa
menina em família bem nascida
criam filhos e aos domingos
apanham cogumelos que misturam
nos queijos bio-especialidade
que exportam para toda europa.

De jovem republicano convicto
com provas dadas nas lutas da rua
e textos assinados sem pseudónimo
passou a financiador da monarquia.
Sem esquecer os pobres (das línguas de gato)
citou Éluard – o pão é mais útil que a poesia.


Budapeste, 09.11.1984.

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