sexta-feira, 19 de outubro de 2018
DE LONGE AS PALAVRAS
"A argila murmurava ao oleiro que a moldava
lembra-te que já fui como tu, não me maltrates"
Omar Khayyam
LONGE DE TI COBERTA DE PALAVRAS
"Um pedaço
de pão, um copo de água fresca
a sombra de uma árvore e os teus olhos"
Omar Khayyam
Desenha o arbusto que disfarça a consciência
aprende a matemática que avalia a paisagem
interpreta o velho falcão que brinca com o fogo.
Estaria à espera do pão que alimenta o milagre.
Mas não de nenhuma revolução milagrosa
de basalto e metáforas promessas e utopias
velhas igualdades divinas agora sim verdadeiras
feitas de barro vermelho e de pessoas sem nome.
Ilusão de ferro é de ti que estou à espera dizia.
Até as serpentes a fingir que dormem na pedra
o que querem é chupar os peitos bem feitos
madrasta avantajada da nação-mãe que caminha.
Mas não há cabelos matinais despenteados
olhares furtivos que insinuam beijos gratuitos
não há carícias clássicas guloseimas definitivas.
A poesia essa adormece sózinha a horas certas
fora de portas longe de ti coberta de palavras.
a sombra de uma árvore e os teus olhos"
Omar Khayyam
Desenha o arbusto que disfarça a consciência
aprende a matemática que avalia a paisagem
interpreta o velho falcão que brinca com o fogo.
Estaria à espera do pão que alimenta o milagre.
Mas não de nenhuma revolução milagrosa
de basalto e metáforas promessas e utopias
velhas igualdades divinas agora sim verdadeiras
feitas de barro vermelho e de pessoas sem nome.
Ilusão de ferro é de ti que estou à espera dizia.
Até as serpentes a fingir que dormem na pedra
o que querem é chupar os peitos bem feitos
madrasta avantajada da nação-mãe que caminha.
Mas não há cabelos matinais despenteados
olhares furtivos que insinuam beijos gratuitos
não há carícias clássicas guloseimas definitivas.
A poesia essa adormece sózinha a horas certas
fora de portas longe de ti coberta de palavras.
UM RIO NAVEGANDO O DESTINO
"Se os amantes do vinho e do amor forem para o inferno
deve estar vazío o Paraíso" Omar Khayyam
Disfarçam-se na noite das estrelas opacas
nos ladrilhos do pátio trabalhados à mão
com promessas rios sem pontes levantadas
na encosta do coração virado à luz da Lua.
Acontece tudo o que não me devia acontecer
mas estar longe torna inútil pensar nos perigos
de serem descobertos pelos guardas obstinados
soldadesca impiedosa de pelo mal o pior fazer.
deve estar vazío o Paraíso" Omar Khayyam
Disfarçam-se na noite das estrelas opacas
nos ladrilhos do pátio trabalhados à mão
com promessas rios sem pontes levantadas
na encosta do coração virado à luz da Lua.
Acontece tudo o que não me devia acontecer
mas estar longe torna inútil pensar nos perigos
de serem descobertos pelos guardas obstinados
soldadesca impiedosa de pelo mal o pior fazer.
Nem que as
túnicas permitam decifrar as pernas
as sombras altas
ou o lume brando das madeiras
as madeixas do
porto que só o corpo é pecado.
As espadas do
frio que nem no inverno se calam.
Com a aranha
suspensa no fio das nossa vidas
da argumentação contra o paradoxo e o absurdo
umas férias no estrangeiro como recompensa
e um gavetão de papelão à espera no paraíso.
Cada dúvida era uma palavra um beijo caído
e cada jura um olhar de cobre muito antigo.
No fundo do mar no tapete para adormecer
o teu sorriso era um rio navegando o destino.
da argumentação contra o paradoxo e o absurdo
umas férias no estrangeiro como recompensa
e um gavetão de papelão à espera no paraíso.
Cada dúvida era uma palavra um beijo caído
e cada jura um olhar de cobre muito antigo.
No fundo do mar no tapete para adormecer
o teu sorriso era um rio navegando o destino.
CAMINHANTE DO PASSADO
"So I began to change into my best clothes
in hopes of joining you,
even thought I live a thousand miles away" Hafez
Como se da negação caminhante do passado
peregrino comum mandatado por ninguém.
Chegou bem cedo sózinho e de bicicleta
às ruínas exteriores do presente do indicativo.
Explicou em duas palavras a sua missão.
Procurava as telhas em estado aceitável
os azulejos mais antigos no relevo da ficção
os vestígios secos das acácias da saudade.
Colecionava paredes pintadas do ventre
quanto mais ousadas melhor mais valiosas.
A humidade e o perfume particular do rosto
que encontrou no velho mercado do desgosto.
in hopes of joining you,
even thought I live a thousand miles away" Hafez
Como se da negação caminhante do passado
peregrino comum mandatado por ninguém.
Chegou bem cedo sózinho e de bicicleta
às ruínas exteriores do presente do indicativo.
Explicou em duas palavras a sua missão.
Procurava as telhas em estado aceitável
os azulejos mais antigos no relevo da ficção
os vestígios secos das acácias da saudade.
Colecionava paredes pintadas do ventre
quanto mais ousadas melhor mais valiosas.
A humidade e o perfume particular do rosto
que encontrou no velho mercado do desgosto.
Depois juntar
tudo com as carícias do costume
a perfeição
artesanal do desejo vindo de longe.
Queria refazer de
novo as janelas da memória
tão simétrica
como o encarnado dos teus lábios.
PRATAS ROUBADAS
"Correrei atrás dos meus amantes
que me dão o meu pão e a minha água
a minha lã e o meu linho
o meu azeite e a minha bebida"
Antigo Testamento (Livro de Oséas)
Vinham organizados da Creta antiga
famosa pelos seus búzios gigantes
para surpresa formal de muitos cronistas.
Eram criados em viveiros municipais
sedimentados pelo estrume animal dos outros
e pelas troféus cabeças dos bois selecionados.
Traziam para amostra e sedução arquitectada
todas as novidades da bijuteria feminina
pratas a peso roubadas à força pelos soldados.
que me dão o meu pão e a minha água
a minha lã e o meu linho
o meu azeite e a minha bebida"
Antigo Testamento (Livro de Oséas)
Vinham organizados da Creta antiga
famosa pelos seus búzios gigantes
para surpresa formal de muitos cronistas.
Eram criados em viveiros municipais
sedimentados pelo estrume animal dos outros
e pelas troféus cabeças dos bois selecionados.
Traziam para amostra e sedução arquitectada
todas as novidades da bijuteria feminina
pratas a peso roubadas à força pelos soldados.
Que aumentavam a
competitividade da oferta
sem a orgia
original do mercado e o focinho da lei
enquanto a
produção local bebia mais uns copos.
Enfeitada em penas luxúria e lingerie e profecias
morcegos nos aposentos cosmopolitas de veludo
trocas e baldrocas pelos corredores perfumados.
Salas de fumo que hoje seriam incluídas no preço
apelativos de
lucros finitos e ternuras sem fim.
Já então sabiam
que seria impossível ter mais prazer.
A CIDADE DE MÁRMORE
"Como será o mar sem ti?
Vão-se converter em areia as minhas recordações?"
Sakir Wa’el
Quando chegam às praias do velho continente
ao lado sensual do livro posterior da pedra.
Sentam-se à volta do fogo e desfazem-se da sede
com desenhos de pessoas irmãos e alguns animais.
Em vida pensam nas vantagens materiais da fé
das promessas nas horas do tudo ou quase nada.
Por isso vão para casa mais cedo para lerem
acabarem o livro antes do sono da último noite.
Vão-se converter em areia as minhas recordações?"
Sakir Wa’el
Quando chegam às praias do velho continente
ao lado sensual do livro posterior da pedra.
Sentam-se à volta do fogo e desfazem-se da sede
com desenhos de pessoas irmãos e alguns animais.
Em vida pensam nas vantagens materiais da fé
das promessas nas horas do tudo ou quase nada.
Por isso vão para casa mais cedo para lerem
acabarem o livro antes do sono da último noite.
Pode ser que
caminhem lado a lado pela rua
que o patrocínio
pedido dos amantes chegue a horas.
Que os nossos
dedos de tão perto nem se toquem
mas nessa
distancia de nada lá estará todo o amor.
Agora falta
apenas o navio fazer-se ao mar
contornar com as mãos a cidade de mármore.
A solidão persa das dálias de uma princesa
e na verdade do fogo por ti recomeçar de novo.
contornar com as mãos a cidade de mármore.
A solidão persa das dálias de uma princesa
e na verdade do fogo por ti recomeçar de novo.
LASCIVAS DA TENTAÇẬO
Eram redondas e grandes as cebolas de Renoir
escolhidas ciganas pelas mulheres no cebolal
latinas recriadas pela grande poesia de Neruda
para internacionalistas serem vendidas em Milão.
Palavras amargas do rouge raro da contradição
duras como a liga de ferro fundido da pasteleira
com sabor a sorte da última narrativa caseira
das esquinas cercadas pela fábula final da solidão.
Por dentro lascivas da tentação quem diria
que do fumo até os bicos de betão tão duros
falavam do prazer do fogo e dos bombeiros.
Escreviam de lábios ardentes e bocas de incêndio
da ponte pedonal dos seus passeios bem abertos.
Abismo ou mordomia um devaneio cultural.
Discutiam intensamente a diferença principal
entre o orgasmo físico e o orgasmo intelectual.
O primeiro da química profunda vai-se em rosé
e o outro mais fino vêm-se em máquina de café.
BELAS E PÚBLICAS ESTÁTUAS JOVENS
Construiam com
cordas roldanas e tira-teimas
alimentação saudável e grelhados no carvão
andaimes de verga e vigas das mais seguras.
Viviam intensamente a época os novos desafios.
Que um dia o vai-e-vêm espacial made in China
de liga importada o táxi amarelo logo-feito passarão
todo o ano nos vai levar numa só noite a Neptuno.
De volta contrabandistas virão carregados
com caixotes afrodisíacos pilulas do dia anterior
de plantas medicinais turistas da terceira idade
e algumas belas e públicas estátuas jovens.
Bons artifices gostavam tanto do que faziam
que os mais antigos das folhas e ramos verdes
fizeram um alpendre com a figueira do quintal.
Fabricaram lenços de assoar de nariz todo-conforto
e como na primeira criação da água tangas ousadas
para usarem no verão na praia privada da elite verbal.
A réplica pecadora desenhada por debaixo do avental.
alimentação saudável e grelhados no carvão
andaimes de verga e vigas das mais seguras.
Viviam intensamente a época os novos desafios.
Que um dia o vai-e-vêm espacial made in China
de liga importada o táxi amarelo logo-feito passarão
todo o ano nos vai levar numa só noite a Neptuno.
De volta contrabandistas virão carregados
com caixotes afrodisíacos pilulas do dia anterior
de plantas medicinais turistas da terceira idade
e algumas belas e públicas estátuas jovens.
Bons artifices gostavam tanto do que faziam
que os mais antigos das folhas e ramos verdes
fizeram um alpendre com a figueira do quintal.
Fabricaram lenços de assoar de nariz todo-conforto
e como na primeira criação da água tangas ousadas
para usarem no verão na praia privada da elite verbal.
A réplica pecadora desenhada por debaixo do avental.
PELA NOITE DENTRO
Se tantos antes
de vós esperaram anos para serem
apenas o amor comum sem mágoas e sem surpresas
sem denúncias ou castigos intensamente um do outro
sejam determinados mas não sejam impacientes.
Façam por encurtar as distâncias da sublimação.
Como gratuitamente se lavavam na humidade do lago
persistiam todos os dias todas as semanas do ano fiscal.
Amenos protegiam as árvores ameaçadas de extinção
desconheciam ainda as garrafinhas de água mineral.
Usavam apenas comprada uma toalha turca-otomana
a comerciantes honestos e marketing de excelência
com verbos a compasso e quilos de argumentação.
Tão bons que para vender às laranjas diziam portugal.
Laranjeira longe da mão do fatalismo do caminho
de ruas e de avenidas aparentemente proibidas.
No contexto do destino na sombra das palavras
de outra aventura fora de portas mais que o sonho.
Esse segue em frente decidido pela noite dentro.
apenas o amor comum sem mágoas e sem surpresas
sem denúncias ou castigos intensamente um do outro
sejam determinados mas não sejam impacientes.
Façam por encurtar as distâncias da sublimação.
Como gratuitamente se lavavam na humidade do lago
persistiam todos os dias todas as semanas do ano fiscal.
Amenos protegiam as árvores ameaçadas de extinção
desconheciam ainda as garrafinhas de água mineral.
Usavam apenas comprada uma toalha turca-otomana
a comerciantes honestos e marketing de excelência
com verbos a compasso e quilos de argumentação.
Tão bons que para vender às laranjas diziam portugal.
Laranjeira longe da mão do fatalismo do caminho
de ruas e de avenidas aparentemente proibidas.
No contexto do destino na sombra das palavras
de outra aventura fora de portas mais que o sonho.
Esse segue em frente decidido pela noite dentro.
A SERPENTE FEZ-SE GUIA NA CAMA
"Retirar-lhe-ei
a minha lã e o meu linho
com que cobria a sua nudez"
Antigo Testamento (Livro de Oséas)
A mesma serpente-folia que os levou feita guia
à casa de pasto mais afamada do entreposto-livre
ao nascer do dia quem diria era fino bailarino
com ferramentas pinta-paredes nas horas vagas.
Rico tingidor de seda com cavalos topo-de-gama.
Da surpresa em surpresa de balcão veio a saber-se
que judeu-poliglota era mensageiro do rei
e cantando repetia as noticias do dia anterior
com livre-trânsito pelos salões de prata do palácio.
Era bem melhor que acabar na judiaria fechado.
Perfumado passeava pelos jardins piscinas e balneários
para ver princesas boazonas e amigas ainda melhores
criadas aos molhos escolhidas a dedo de todas as cores
com a ternura mui-sensível da antiguidade assexual.
Roupa nenhuma a tomarem banho na água termal.
Nada de branquear a memória pata-choca da afirmação
isto foi antes da chegada da idade negra dos ferrolhos
do fogo da razão dos dogmas à força das espadas
da verdade da lapidação e outras guerras perdidas.
A serpente fez-se guia na cama e ninguêm protestou.
com que cobria a sua nudez"
Antigo Testamento (Livro de Oséas)
A mesma serpente-folia que os levou feita guia
à casa de pasto mais afamada do entreposto-livre
ao nascer do dia quem diria era fino bailarino
com ferramentas pinta-paredes nas horas vagas.
Rico tingidor de seda com cavalos topo-de-gama.
Da surpresa em surpresa de balcão veio a saber-se
que judeu-poliglota era mensageiro do rei
e cantando repetia as noticias do dia anterior
com livre-trânsito pelos salões de prata do palácio.
Era bem melhor que acabar na judiaria fechado.
Perfumado passeava pelos jardins piscinas e balneários
para ver princesas boazonas e amigas ainda melhores
criadas aos molhos escolhidas a dedo de todas as cores
com a ternura mui-sensível da antiguidade assexual.
Roupa nenhuma a tomarem banho na água termal.
Nada de branquear a memória pata-choca da afirmação
isto foi antes da chegada da idade negra dos ferrolhos
do fogo da razão dos dogmas à força das espadas
da verdade da lapidação e outras guerras perdidas.
A serpente fez-se guia na cama e ninguêm protestou.
A PRIORIDADE DO IMPÉRIO
Os monges
barbudos na casa grande isolada
do alêm destilavam com a ajuda do saber fazer
a água pura da vida que afastava para bem longe
a morte próxima e outras doenças de contágio.
Doenças de gansos e de fígados estrangeiros
trazidas de fora juravam olhando o céu do Egipto
pelos berberes pecadores e outras cercanias mouriscas.
Mais a limpeza corporal que na Europa de então
não tinha sido elevada pelo poder lúdico e temporal
a prioridade do império no centro parado do mundo.
Com eles os nossos repetem com inabalável convicção
a luz começou a brilhar com os sábios e alambiques
a matemática das cozinhas mais a astronomia interior
com mapas-mundo e ala-que-se-faz-tarde para lá chegar.
Das roupas alegres quem se lembra das pilhagens
e do estrupe organizado dos cruzados e cruzeiros
dos exércitos do povo sobre as mulheres indefesas.
Da ocupação das terras e dos que sempre ali viveram.
do alêm destilavam com a ajuda do saber fazer
a água pura da vida que afastava para bem longe
a morte próxima e outras doenças de contágio.
Doenças de gansos e de fígados estrangeiros
trazidas de fora juravam olhando o céu do Egipto
pelos berberes pecadores e outras cercanias mouriscas.
Mais a limpeza corporal que na Europa de então
não tinha sido elevada pelo poder lúdico e temporal
a prioridade do império no centro parado do mundo.
Com eles os nossos repetem com inabalável convicção
a luz começou a brilhar com os sábios e alambiques
a matemática das cozinhas mais a astronomia interior
com mapas-mundo e ala-que-se-faz-tarde para lá chegar.
Das roupas alegres quem se lembra das pilhagens
e do estrupe organizado dos cruzados e cruzeiros
dos exércitos do povo sobre as mulheres indefesas.
Da ocupação das terras e dos que sempre ali viveram.
TERRA PARA SALGAR
A casa é de terra
com algum sal para salgar
os santos constipados estão ajoelhados no chão
e os sacerdotes com uma valente pneumonia.
Coitados do dilúvio passam frio que se fartam
com lama e arrepios para o resto das suas vidas.
Oxalá Deus se tenha esquecido no escritório
no arranha-céus a punição exemplar anunciada.
A culpa é dos infieis que deviam ser em jovens
besuntados em azeite grosso o dorso dos rapazes
e os cabelos compridos com piolhos das raparigas.
Para os que não tem ciência e lábia desenvolvida
conhecimentos de caligrafia e latim superior
e outras línguas civilizadas com lanças bem afiadas.
Da rocha mais afastada serão lançados ao mar
para cadelas de caça aprenderem cedo a nadar.
Sem livros e pergaminhos das cidades gregas
medicinas alternativas que o prevísivel futuro
pouco promete com o novo-cristão Constantino.
Estatizado e oficial Deus deixou de ser de todos
passou a ser da santa hieraquia e dos poderosos.
os santos constipados estão ajoelhados no chão
e os sacerdotes com uma valente pneumonia.
Coitados do dilúvio passam frio que se fartam
com lama e arrepios para o resto das suas vidas.
Oxalá Deus se tenha esquecido no escritório
no arranha-céus a punição exemplar anunciada.
A culpa é dos infieis que deviam ser em jovens
besuntados em azeite grosso o dorso dos rapazes
e os cabelos compridos com piolhos das raparigas.
Para os que não tem ciência e lábia desenvolvida
conhecimentos de caligrafia e latim superior
e outras línguas civilizadas com lanças bem afiadas.
Da rocha mais afastada serão lançados ao mar
para cadelas de caça aprenderem cedo a nadar.
Sem livros e pergaminhos das cidades gregas
medicinas alternativas que o prevísivel futuro
pouco promete com o novo-cristão Constantino.
Estatizado e oficial Deus deixou de ser de todos
passou a ser da santa hieraquia e dos poderosos.
SENTADA NA MURALHA
Paredes do melhor
mármore renascentista
abóbodas pontiagudas do design italiano
como a porcelana do perfil de donzela prendada
a mostrar distraída um pouquinho do joelho.
Os arcos eram redondos os pilares de granito
como os ombros largos dos homens-armário
leais defensores da tão virtuosa hierarquia
vossa senhoria às suas ordens ó fraseologia!
Voltando à doçura da imagem anterior
sentada na muralha desfraldada pelo vento
pensativa de Rodin tão aflita pelos atrasos
do salário pequeno e da barriga a crescer.
Na cidade sonolenta quem vai assim acreditar
que verbo tanto lhe falou de Cristo ao ouvido
do baptismo na tina nas águas do Jordão
de ser uma flor escolhida para a devoção.
Histórias de pilares com guaritas e arcos exactos
da cal da argumentação talento e misericórdia
janelas altas abertas à tentação que não dorme
seja criado ou trovador seja bispo ou sacristão.
abóbodas pontiagudas do design italiano
como a porcelana do perfil de donzela prendada
a mostrar distraída um pouquinho do joelho.
Os arcos eram redondos os pilares de granito
como os ombros largos dos homens-armário
leais defensores da tão virtuosa hierarquia
vossa senhoria às suas ordens ó fraseologia!
Voltando à doçura da imagem anterior
sentada na muralha desfraldada pelo vento
pensativa de Rodin tão aflita pelos atrasos
do salário pequeno e da barriga a crescer.
Na cidade sonolenta quem vai assim acreditar
que verbo tanto lhe falou de Cristo ao ouvido
do baptismo na tina nas águas do Jordão
de ser uma flor escolhida para a devoção.
Histórias de pilares com guaritas e arcos exactos
da cal da argumentação talento e misericórdia
janelas altas abertas à tentação que não dorme
seja criado ou trovador seja bispo ou sacristão.
PERFIL DE ENIGMAS E INTIMIDADES
De perto a língua parecia de cão ou de gata
dizia intelectual com voz um pouco cansada
entre o copo convite e o cachimbo de classe
e a meia-luz japonesa da salinha do bem estar.
As paredes tinham sido decoradas há pouco tempo
recados de erotismo com motivos de bom gosto
e sem o pudor reacionário de épocas anteriores.
Deixam-se facilmente convencer a passar o tempo
com o pão caseiro do sorriso a saber do que gosta
próximo do teu perfil de enigmas e intimidades
e do jogo povo no palácio da sublevação sem idade.
Nas silêncios e possivelmente nos ramos dos beijos
que se deslumbram com os seus jardins interiores
- os desenhos húmidos nos recantos do teu corpo.
COLECTIVA A SUBMISSẬO
Hoje os tempos são outros é verdade
mas apesar da melhor imagem nada mudou
a imposição das crenças e dos costumes
foi sempre um privilégio dos vencedores.
A ideologia inquisidora da intolerância religiosa
quase foi invenção do Vaticano e seus concílios
depois com a habitual vulgarização do produto
outros a desenvolveram e aperfeiçoaram melhor.
O contencioso histórico das duas verdades
a de deus e a dos homens que o inventaram
desde o axioma absoluto ao dogma indiscutível
com o pensamento livre e racional de tão poucos.
Será que há dúvidas quem irá ganhar outra vez?
Não é a democracia a vontade da maioria?
Para fazer o resto lá estará colectiva a submissão
a sofrer para assim podermos merecer a eternidade.
A tomar conta da consciência da nossa resignação.
mas apesar da melhor imagem nada mudou
a imposição das crenças e dos costumes
foi sempre um privilégio dos vencedores.
A ideologia inquisidora da intolerância religiosa
quase foi invenção do Vaticano e seus concílios
depois com a habitual vulgarização do produto
outros a desenvolveram e aperfeiçoaram melhor.
O contencioso histórico das duas verdades
a de deus e a dos homens que o inventaram
desde o axioma absoluto ao dogma indiscutível
com o pensamento livre e racional de tão poucos.
Será que há dúvidas quem irá ganhar outra vez?
Não é a democracia a vontade da maioria?
Para fazer o resto lá estará colectiva a submissão
a sofrer para assim podermos merecer a eternidade.
A tomar conta da consciência da nossa resignação.
NẬO FOSSE O POVO MIÚDO
No filme escuro da lentidão que ficou
os quatro doutores da Igreja de Roma
até parecia que tinham visto o diabo.
Não olhavam a nada deitavam tudo ao chão
corriam tinham pressa em acabar a missão.
Em sentar no trono do ouro e da opulência
colocar a coroa de rainha na cabeça de Maria
das mãos dos que ainda ontem a queriam lapidar.
Não fosse o povo miúdo pensar coisas de tontos
que era uma das suas irmãs uma das suas filhas
Nem os sábios nem os líderes eleitos os outros
nunca aprendem nada e nós ainda menos dizia.
- Os operários só não chegaram de vez ao poder
porque em casa não ajudavam as suas mulheres.
A estender a apanhar a roupa a lavar os pratos
em casas equipadas com todo o tipo de máquinas.
- Se tivessem sido verdadeiros companheiros
hoje gordos estavam confortavelmente instalados.
os quatro doutores da Igreja de Roma
até parecia que tinham visto o diabo.
Não olhavam a nada deitavam tudo ao chão
corriam tinham pressa em acabar a missão.
Em sentar no trono do ouro e da opulência
colocar a coroa de rainha na cabeça de Maria
das mãos dos que ainda ontem a queriam lapidar.
Não fosse o povo miúdo pensar coisas de tontos
que era uma das suas irmãs uma das suas filhas
Nem os sábios nem os líderes eleitos os outros
nunca aprendem nada e nós ainda menos dizia.
- Os operários só não chegaram de vez ao poder
porque em casa não ajudavam as suas mulheres.
A estender a apanhar a roupa a lavar os pratos
em casas equipadas com todo o tipo de máquinas.
- Se tivessem sido verdadeiros companheiros
hoje gordos estavam confortavelmente instalados.
TROCANDO OUSADAS MENSAGENS
De pé construia e
moldava refazia para esquecer
a escrita em pergaminho na grés livre do pensamento.
Comercializava lotes de café da melhor qualidade
tabernas proletárias quando a história ainda dizia não.
Deixava-se ficar sentado trocando ousadas mensagens
materializando a conquista com um artigo de combate
nas folhas da palma da mão que servia de mata-borrão.
Anunciava a libertação eminente dos presos politicos.
Uma placa com uma frase escrita à pressa na parede
um futuro trocadilho adiado para tempos menos cinzentos.
O portão da luz da modernidade e da indignação vigiada
abriu-se como girassol que se rasgou e só ficou o verniz
Manda quem pode e obedece quem deve dizia o advogado
porque o santo Papa é finito mas não a Santa Igreja senhor juiz.
Que um marinheiro verdadeiro quer queiram quer não queiram
partilha uma mulher com o bom deus e meia-dúzia com o diabo.
a escrita em pergaminho na grés livre do pensamento.
Comercializava lotes de café da melhor qualidade
tabernas proletárias quando a história ainda dizia não.
Deixava-se ficar sentado trocando ousadas mensagens
materializando a conquista com um artigo de combate
nas folhas da palma da mão que servia de mata-borrão.
Anunciava a libertação eminente dos presos politicos.
Uma placa com uma frase escrita à pressa na parede
um futuro trocadilho adiado para tempos menos cinzentos.
O portão da luz da modernidade e da indignação vigiada
abriu-se como girassol que se rasgou e só ficou o verniz
Manda quem pode e obedece quem deve dizia o advogado
porque o santo Papa é finito mas não a Santa Igreja senhor juiz.
Que um marinheiro verdadeiro quer queiram quer não queiram
partilha uma mulher com o bom deus e meia-dúzia com o diabo.
CABEÇA FRIA LÍNGUA COMPRIDA
Escribas mais baixos e outros bem parecidos
templos sagrados por dentro e por fora
de Júpiter bonitão e de Jerusalém de todos
alguns contabilistas da Suméria velhinha.
Cabeça fria coração quente língua comprida
igrejas dos outros por profanar destruir e incendiar
mais tarde também na ponta afiada das espingardas
como em Barcelona livre e da fúria revolucionária.
Na capital do vazío o edíficio central dos correios
foi por fim classificado património nacional
para guardar para a história a memória pacata
e apreciar a velha arquitectura do estado novo.
Apesar da estratégia delineada pelo consultor
o serviço postal andava a pé continuava medíocre
mas havia uma grande vantagem de justica social
- havia muito gente que assim não perdia o emprego.
AMOREIRAS DA CIDADE
"Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra."
Novo Testamento (S. João)
Já então com o segredo da seda e do alfabeto
vencedor o touro bravo do alto dos seus cornos
ferro em brasa representava o poder do macho.
Era símbolo genital do domínio sobre a fêmea.
Da escrita feminina nas amoreiras da cidade
sobressaia a dignidade das begónias da Babilónia
o sonho antes do tempo da legislação laboral
as casas estrangeiras de câmbio na Mesopetâmia.
As bibliotecas profanas culpa da fertilidade liberal.
Assim como o vinho tinto kosher da única videira
do almoço ligeiro cópia da penúltima ceia de Cristo.
Videira que crescia sobre a campa rasa de David
enfeitada por romãseiras carregadas de romãs doces
como se não tivesse sido rei o melhor entre os seus.
Tinham comido pão seco molhado no molho da traição
que era na negação o próprio regresso à puta da vida
pois enquanto o simples irmão lavava os pés ao povo
outros chafurdavam as mãos na água benta da mentira.
A TERNURA ERUDITA DA TERRA
O império de
Bizâncio durou mil anos
o amor dos banhistas nem um só verão
que multiplicado pelas areias a queimar
se revê nas lágrimas acesas da sobrevivência
e nas mil e uma noites da vossa paixão.
O Rei Salomão gostava de repousar sentado
encostado aos troncos dos melhores cedros
comprados a crédito cortadas por mãos hábeis
aos inimigos da eternidade felizmente finita.
A ternura erudita da terra vulnerável dos outros
glicínias da resistencia nos baldios da dignidade.
Uma sensatez social como um frasco de conserva.
Um desafio de alguidares e algures os teus lábios.
Lordes ladies cavaleiros gatunos e merdas
eles quase todos eram avôs pais e barrascos.
Não conheciam o comprimido nem precisavam
cultivavam jovenzinhas com as criadas da casa
e nas camas deitadas as galdérias milagres faziam.
o amor dos banhistas nem um só verão
que multiplicado pelas areias a queimar
se revê nas lágrimas acesas da sobrevivência
e nas mil e uma noites da vossa paixão.
O Rei Salomão gostava de repousar sentado
encostado aos troncos dos melhores cedros
comprados a crédito cortadas por mãos hábeis
aos inimigos da eternidade felizmente finita.
A ternura erudita da terra vulnerável dos outros
glicínias da resistencia nos baldios da dignidade.
Uma sensatez social como um frasco de conserva.
Um desafio de alguidares e algures os teus lábios.
Lordes ladies cavaleiros gatunos e merdas
eles quase todos eram avôs pais e barrascos.
Não conheciam o comprimido nem precisavam
cultivavam jovenzinhas com as criadas da casa
e nas camas deitadas as galdérias milagres faziam.
IGUALDADE DA REVOLUÇẬO SEXUAL
Que bom seria
poder dizer se alguidar é lavatório
azenha é berbigão para surpreender a rima na água
manhas sem pudor e tácticas de envolvimento
com muito arder para adultos e cenas de sexo puro.
Da igualdade destapada da revolução sexual
jurava que se podiam cortar as urtigas da igualdade
com as fortes ferramentas emprestadas do vizinho.
Acordar de manhã com as pernas abertas ao mundo.
Com a antecipação da época dos saldos da crise
escrever ser barata a carta de condução para todas
mais o apartamento próprio e o empréstimo bancário.
O road-show promoção da legalização do aborto.
Promessas das roupas espalhadas pelo chão.
As gavetas reviradas da fúria em noite do ciúme.
Mas no dia seguinte cadeira não faças das minhas nádegas
o escadote prateleira dos teus livros que ninguém quer ler.
azenha é berbigão para surpreender a rima na água
manhas sem pudor e tácticas de envolvimento
com muito arder para adultos e cenas de sexo puro.
Da igualdade destapada da revolução sexual
jurava que se podiam cortar as urtigas da igualdade
com as fortes ferramentas emprestadas do vizinho.
Acordar de manhã com as pernas abertas ao mundo.
Com a antecipação da época dos saldos da crise
escrever ser barata a carta de condução para todas
mais o apartamento próprio e o empréstimo bancário.
O road-show promoção da legalização do aborto.
Promessas das roupas espalhadas pelo chão.
As gavetas reviradas da fúria em noite do ciúme.
Mas no dia seguinte cadeira não faças das minhas nádegas
o escadote prateleira dos teus livros que ninguém quer ler.
NO LIVRO SENSUAL DAS PEDREIRAS
Quando chegam a
este envelhecido continente
aos bosques mais húmidos das tuas sombras
no lado direito do livro sensual das pedreiras
fazem desenhos altivos de pessoas e animais.
Recordam o primeiro negócio audio-visual
o segundo pecado batota da terceira serpente
e o espírito olímpico das medalhas perdidas
enquanto carmim se dissimulam nas areias.
Pensam nas vantagens da fé de algodão em rama
das recompensas na hora da fava e do juízo final.
Do bolo-rei importado irem para casa mais cedo
e lerem o livro antes que o sono chegue certeiro.
Depois há que contornar o oceano em viagem
cercar de ardósia feliz o horizonte da tua paixão.
Acreditar uma vez mais na intensidade do fogo
e com as mãos abertas reconquistar o teu coração.
aos bosques mais húmidos das tuas sombras
no lado direito do livro sensual das pedreiras
fazem desenhos altivos de pessoas e animais.
Recordam o primeiro negócio audio-visual
o segundo pecado batota da terceira serpente
e o espírito olímpico das medalhas perdidas
enquanto carmim se dissimulam nas areias.
Pensam nas vantagens da fé de algodão em rama
das recompensas na hora da fava e do juízo final.
Do bolo-rei importado irem para casa mais cedo
e lerem o livro antes que o sono chegue certeiro.
Depois há que contornar o oceano em viagem
cercar de ardósia feliz o horizonte da tua paixão.
Acreditar uma vez mais na intensidade do fogo
e com as mãos abertas reconquistar o teu coração.
A PREDESTINAÇẬO DA MENTIRA
Da decadência a
cidade era a última etapa
nessa peregrinação malfadada da história
pela sistematização do corno do fatalismo
e a destruição abrangente de todas as dúvidas.
Eram ainda do tempo dos primos do rio Jordão
quando pobres e perseguidos os profetas
andavam de sandálias ou mesmo descalços
misturavam-se com todos e não tinham manias.
Naqueles outroras ainda não eram gente
não atiçavam o fogo justo dos descontentes
que sabiam esperar pacientemente as cinzas
e seriam nos caminhos o asfalto dos milagres.
Regimentos de carneiros e ovelhas barrigudas
escondendo a predestinação da mentira feita lei
era discípulo predilecto dos sábios do sol-nascente
a primavera descascada do medo feito traição.
Cantor privado de frases feitas e sem tomates
- não me toques sua puta gritava quando se distraía
e o perfume se acabava chega para lá essas mamas!
Mas fazia carreira a sério. Já então era assim o futuro.
nessa peregrinação malfadada da história
pela sistematização do corno do fatalismo
e a destruição abrangente de todas as dúvidas.
Eram ainda do tempo dos primos do rio Jordão
quando pobres e perseguidos os profetas
andavam de sandálias ou mesmo descalços
misturavam-se com todos e não tinham manias.
Naqueles outroras ainda não eram gente
não atiçavam o fogo justo dos descontentes
que sabiam esperar pacientemente as cinzas
e seriam nos caminhos o asfalto dos milagres.
Regimentos de carneiros e ovelhas barrigudas
escondendo a predestinação da mentira feita lei
era discípulo predilecto dos sábios do sol-nascente
a primavera descascada do medo feito traição.
Cantor privado de frases feitas e sem tomates
- não me toques sua puta gritava quando se distraía
e o perfume se acabava chega para lá essas mamas!
Mas fazia carreira a sério. Já então era assim o futuro.
O ANTIGO TESTAMENTO REVISTO
"O meu amado é para mim um ramalhete de mirra
morará entre os meus seios."
Antigo Testamento (Cântico dos Cânticos)
O Antigo Testamento foi revisto retocado e censurado
os ditos eram decepados e dependendo da dimensão
entregues aos cuidados das lagostas e dos crocodilos
inspectores contratados contra a nossa determinação.
As cujas redondas de cada gosto seu paladar
coisas eram tapadas e recheadas de alcatrão
com o pecado barrado pelo luto triste da censura.
De novas raízes manipuladas por demónios precoces
que até no Livro Sagrado de prazeres se infiltrou.
Só um bom castigo permite regressar à vida exemplar.
Com a monção fria do pesadelo e da escravidão
subiam as muralhas das derrotas e do mau sono
a pé pelas escadas apertadas até às torres do remorso
NA LEVEZA DOS SENTIMENTOS
"Yes, I can see now."
Charlie Chaplin’s City Light (the end)
Nos caminhos cosmopolitas para a praça da tradição
usavam o mesmo basalto na calçada das avenidas.
Nos parapeitos das janelas ainda poucos acreditavam
que inesperadamente podem ser mais rápidos que a luz
nos pensamentos incertos e na leveza dos sentimentos.
Nos vestígios da melhor arquitectura feita lava do vulcão
do amor livre do mundo milenar da nossa alegria à chuva.
No seu designío gostariam de chegar com a noite mais curta
acordar na fome das madrugadas e os pescadores libertar.
Conversar sobre a ponte do sonho no topo da esperança
com os amantes inevitáveis e os amores impossíveis.
Ficarem à espera que o tempo e alguns navios ajudem
a levarem sem tempestades o Vento ao coração da Lua.
Talvez consigam abrir as represas sem levantar as pontes
desnudar a tarde com as amarras impróprias da navegação
quando na hora da partida os sentidos se encontrarem no cais
a gentileza da brisa e do mar do sol e do ar permitir a partilha.
Porque escrever é também um acto solidário da nossa solidão.
Budapeste (e outros mundos percorridos também com o coração) 2010-2011.
RUA DA SAUDADE
Ary dos Santos
nas minhas palavras
"Minha
laranja amarga e doce
Meu
poema." in "Cavalo à solta"
Ideia que começou
a tomar a forma de palavras
durante os dias
que estivemos no 1. Dto do Nr. 23
prédio de Ary (de
Alexandre O’Neil e Fernando Tordo)
em Lisboa na Rua
da Saudade.
PRAÇA DA CIDADANIA
"Em Lisboa
vendendo a minha fruta
de azeite e mel
de ódio e saudade" in "Cidade"
Os seus seios de
cinza gravados na cortiça
no vestido de
rainha moldado ao corpo da desalmada
com bicos de
carvão serviam nocturnos às mesas.
Champanhe com
gravatas sintéticas da cor dos collants
trabalho todo
feito pelo paciente proletariado chinẻs
explorado e muito
mal pago feliz por ter emprego.
Radiografia
negativa e perpicaz do fascínio da liberdade
de trabalhar e
dormir ás vezes cobrir e ser cobertor
furão o camarada
maior comia as melhores melancias.
Parava para
refazer contigo sem medo do senhorio
a casa da luxúria
e da ousadia a voz baixa transformada
e no sábado
cortar a relva onde crescia sensual a poesia.
Poderiam ser dos
espelhos das suas partes inferiores
sombras que
ajudam o faro do cão a não se perder
e a encontrar o
caminho para a praça da cidadania.
Conquista última
do século que agressivo o avaliador
como um cilindro
de nojo herói sedento de dor
quer destruir e
aplanar por conveniência e conivência.
TECE A TECNOCRACIA
"Terra onde
o mar é bastante
para guardar os
teus segredos"
in "Tempo da
Lenda das Amendoeiras"
As matas e as
florestas dos ataques surpresa
das emboscadas
furtivas do direito à indepêndencia
seriam das
guerras se não fossem da paixão.
Se não fossem dos
amores interditos por lei à rendição
pelos brandes
costumes trocavam os lençois brancos
por um desvio
intenso de duas horas sem queixumes.
Tece tece
tecedeira que o Bom Deus tudo perdoa
aos que com
acácias ordeiros se submetem ao poder.
Tece enquanto
podes há trabalho e há máquinas.
Ainda não foram
vendidas tece enquanto há fios
salários baixos
emprego precário o coração apertado
quase fora do
peito tece pequeno o teu desespero.
Se o óleo fígado
de bacalhau do purgante acabou
prega-lhe de
castigo com terramicina a dobrar
com a justa epistomologia
tece tece a tecnocracia.
Paises de
delatores e denuncias pátrias de merdas
que entregam os
vizinhos ao degredo e à morte.
Haverá futuro?
Vale a pena escrever da má sorte?
RUA DA SAUDADE
"Que ficará
na memória
das naus que de
Abril partiram"
in "As Portas Que Abril Abriu"
in "As Portas Que Abril Abriu"
De cobre e
estanho antes se invadiu a guerra
e hoje se semeia
o corpo se fabrica o pão
se transforma
bronze o mais duro da nossa terra.
Entre pressa e
vagares sente algum pudor adulto
despe-se com
cuidado que as janelas estão abertas
e os pardais
telhado atentos espreitam descarados.
De tão
abandonada por dentro dos pensamentos
de entrega ao
prazer que se aproxima deixa distraída
esquecido o
último obstáculo sobre as teclas do piano.
Na rua lá em
baixo com a ternura não se sabia
se o que se
ouvia era uma das melodias famosas
que assumiam o
amor às vezes a luta de classes.
Se o gozo
perfeito a festa linda do seu coração.
Morrer? Morrer
agora? Morrer asssim canção?
Só quando não
tiver mesmo mais nada para fazer.
NA BARBEARIA CLÁSSICA
"Para a
cauda avestruz do teu andar de vereda
o decote intenção
da tua voz agulha
recorto este
poema num papel de seda"
in "A Casaca" Para Natália Correia
in "A Casaca" Para Natália Correia
Na barbearia
clássica a barbeira de Salamanca
cantava de olhos
fechado frente ao espelho maior
longe como estás
homem nem de foguete ou foguetão.
Cantava descalça
assentes nas tamancas grossas
as pernas lisas
da hidráulica das nádegas rijas
apoiadas na
cadeira alta do ferro de marca cromada.
Tinha na mão
direita sobre a pedra da ilusão
onde amolava
cortante a lâmina da navalha
se fosse mais
abaixo seria marítima rocha do cais.
Preparava a máquina
zero adiantava serviço
do próximo
cliente cabelo eriçado à ouriço
remoinhos de
areias secas cortados às escadinhas.
Bendito não há
ouriça que não goste de chouriço
que não convide
no olhar ao envolvimento precoce
do soldado
valente á civil sem armas de fogo.
Cantava descalça
na barbearia a linda barbeira do mar
a mão direita
afiada segurava a tesoura militar
que cortava o
tempo os dias ter com quem amar.
NOVIÇAS AO BALCÃO
"Vá de Metro
vá de burro
passear
mas não leve o
alfabeto
que se pode
constipar " in "O esplanador"
Exmo Sr. A. Ramos
Rosa Faro
Em agosto a água
fresca quase quase gelada
parecia ser das
fontes ainda te lembras?
Meu
amor dos fontanários eternos de Roma.
A água marinheira
que lavava terna o teu rosto
se juntava em
poças pequenas em bocas acesas
e percorria
desperta o corpo muito muito devagar.
Em barro te
moldava e de pedra te esculpia
com os dedos que pedira emprestados à noite
com os dedos que pedira emprestados à noite
e nos custos
incluídos todos serviços bancários.
A melhor cerveja
preta a copo para turista
era servida no
mármore pelas noviças ao balcão
no pátio
recuperado novo design das Carmelitas.
Estavam
pressionadas que o diabo não dorme
preocupadas com o
retorno do dinheiro investido
é que Deus foi
sempre o melhor na contabilidade.
ONDE A CIDADE SE BANHA
"Vou pelas
ruas da noite
com basalto de
tristeza" in "Rosa da
noite"
Escreveu a
correr que só por dentro da noite
percorrendo a pé
a argila seca do pensamento
seria possível
fingir ignorar tamanho mistério
vestindo as
metáforas nas cercanias dos lábios.
Bordando a sombra
com as luzes da ilusão
recolhidas à
pressa durante o intervalo para almoço
rematando com
fios a madrugada da inquietação.
A ordem
milenar com barbas de consentimento.
Frente à deusa
seria? Sempre nova da paixão
sem a censura do
pudor clerical e nada a esconder
humana assim
responderia em texto ao amor
com as cores
profundas do erotismo e fascinação.
Levar-te
comigo convencer-te a ficar para sempre
na minha
casa com o arranjo verbal das palavras
o vinagre dos
sentimentos ensopados em vinha d’alho
e o violino
húngaro nocturno do
teu sorriso mais claro.
Guardar na mala
as vozes doces do rio grande
onde a cidade se
banha e nós mais tarde um no outro.
O motorista de
longo curso com horários a cumprir
já devia estar na
estrada e ainda estava sentado à mesa.
PEDRAS DE GELO
"Por ti
morro e ninguêm sabe
mas eu espero o
teu corpo que sabe a madrugada"
in "Amêndoa
amarga"
Em esboços a
lápis negro de pedreiro arquitecto
declara que
inventou país o teu nome minha raíz
pescador no
umbral desse mundo dito novo
onde as pedras de
gelo chafurdavam transpiração.
Assessores ocupam
gabinetes pensam ser gente
que podem decidir
por nós sobre o futuro dos outros
seguros das suas
verdades que a madrugada do mundo
antes da sua
nomeação era uma arca congeladora.
Meu botão de
rosa não os posso mandar à merda
poderia
levar com um processo sumário em cima
e no tribunal do
trabalho o medo a confirmação
despedimento com
justa causa a prestação da casa.
Valeria talvez a
pena lembrar a estes rapazinhos de caca
que mesmo
imperfeita em democracia a festa da vitória
na noite eleitoral é o primeiro dia da próxima derrota.
na noite eleitoral é o primeiro dia da próxima derrota.
- Boas
indemenizações depois chegam outros iguais.
O TEJO A DORMIR
"a mulher é
de granito
os seus braços
duas pontes
entre o ventre e
o infinito" in "Fado transmontano"
Que sejas tu
com o teu olhar de bandolim
a tua voz
contra-baixo a parar a força do vento
e mandar para
outras paragens o grande vendaval.
Onde longe não
faça estragos nem às crianças mal
se ventania que
seja para limpar o céu redentor
o ar puro e
fresco no abrigo morno onde te espero.
Os poderosos há
muito que compraram o mundo
os seus herdeiros
de sangue os mui fieis servidores
tem-se limitado à
gestão assuntos correntes do lucro.
Para que nada
mude enquanto o mundo for mundo
sem a claridade
da manhã o saxofone do casino
quando o sol
entra feminino pela janela da sala.
Te ilumina
acordeão eu ponho a mão no teu rosto
nos teus lábios
em tudo para papel quimico do futuro
te reproduzir e
guardar na gaveta do meu coração.
- Subiamos até à
rua de Tordo e Ary dos Santos
a dois em
esforço pelas escadinhas de São Crispim.
O Tejo ao longe
calmo até parecia estar a dormir.
A LÍNGUA É DA SERPENTE
"É de linho
o teu verso fiado no destino
dum país ao luar
dum fio de azeite"
in "Retrato de António Nobre"
in "Retrato de António Nobre"
As palavras
embebidas em aguardente caseira
aquecem e
desfazem-se na escuridão dos sentidos
no alçapão
transparente das ideias mais profundas.
Mas não negam
aquilo que na verdade sempre foram
cumplicidade e
entrega troca de curtas mensagens
o enxofre da
vinha o martelo da madeira mais dura.
Para bater a
carne espalhar pelo tampo da mesa
do tempo da fome
sem força para morrer
dar nas
canelas dizer que não ao Grande-irmão.
E então não
era que sentada no barril de carvalho
na cor turva
cultivada no azeite fino dos seus olhos
não resistia
e dócil se deixava comer pelo leão!
Sagrado que
enquanto comia não falava nem ouvia
os seios
euforia debaixo da bata bem apertada
a dar de si
os bicos não poderiam estar mais tensos.
Nem o melhor
detergente do mercado grandalhão
a luz perversa
dos olhos a lei cega do olhar.
Não importa o que
pensam a língua é da serpente.
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