sexta-feira, 19 de outubro de 2018

ENTRE MUITO VERBO CALADO



"Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão"  David Mourão-Ferreira

Na selva da solidão rasteira
onde se procuravam à toa
por sortilégio da flôr não se viam 
em desencontros de pouca sorte.

Entre muito verbo calado
e tanta palavra adiada
montes de restolho a secar
para melhor flagelo dos pés.

Como as toutinegras de ontem
as mãos perdiam-se intactas
na topologia dos segredos.
Perdiam-se aos poucos na chuva.

Escrevia com um pau na terra
fica comigo até à eternidade
que termina na próxima noite
no dia do mito do nosso reencontro.

Ao longe em palavras e torresmos
quase pretos de tanto mexer os dedos
a saudade despia-se portuguesa
na torre a sul de todos os ventos.

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