"Antes que
eu rasgue estes versos
como quem rasga
um vestido" Pedro Homem de Mello
Passeava descalça
pelo mundo
pelos livros de
vidro com morangos
desenhados e
colhidos em Murano
comercializados
com estilo em Veneza
sem um único
corte na sola dos pés.
Passeava com um
sorriso de escola toda.
Sem querer saber
das igrejas profanadas
pelos
guerrilheiros iluminados da razão.
Da excelência do marketing revolucionário
Da excelência do marketing revolucionário
que garantia o
melhor dos céus na terra
e a vida eterna
na bala duma espingarda
para quem
duvidasse de tamanha filantropia.
Passeava com
botas e uniforme verde-oliva.
Esmagava as
vidrarias e os morangueiros
altiva como os
outros filhos da revolução
ao serviço do
estado pai-benevolente
que por vezes
tinha de usar o cinto-chicote
para o povo saber
o que era o melhor para ele.
Diz-se que mais
tarde quando sem botas
quis plebeia
meia-nua voltar a andar descalça
como aprendera a
fazer com a mãe-galinha
no novo mundo não
podia porque os livros
tinham sido
proibidos e o vidro derretido.
Apodreciam de
podres as ideias dos inimigos.
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