sexta-feira, 19 de outubro de 2018

NA BARBEARIA CLÁSSICA



"Para a cauda avestruz do teu andar de vereda
o decote intenção da tua voz agulha
recorto este poema num papel de seda"
in "A Casaca" Para Natália Correia

Na barbearia clássica   a barbeira de Salamanca
cantava de olhos fechado   frente ao espelho maior
longe como estás homem    nem de foguete ou foguetão.

Cantava descalça   assentes nas tamancas grossas
as pernas lisas da hidráulica   das nádegas rijas
apoiadas na cadeira alta   do ferro de marca cromada.

Tinha na mão direita   sobre a pedra da ilusão
onde amolava cortante   a lâmina da navalha
se fosse mais abaixo   seria marítima rocha do cais.

Preparava a máquina zero  adiantava serviço
do próximo cliente   cabelo eriçado à ouriço
remoinhos de areias secas   cortados às escadinhas.

Bendito não há ouriça  que não goste de chouriço
que não convide no olhar   ao envolvimento precoce
do soldado valente   á civil sem armas de fogo.

Cantava descalça na barbearia   a linda barbeira do mar
a mão direita afiada    segurava a tesoura militar
que cortava o tempo os dias   ter com quem amar.

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