sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

TRIGO

(Na esquina do trigo da manhã)

Na esquina do trigo da manhã
ao longo dos seios femininos
com ousadia o corpo baloiçava
com ritmo e evidente bom gosto.

Com o canto alegre dos pintassilgos
bandos que povoam as searas.
Baloiçava à esquerda e à direita
melhor que os cabelos do vento.

Seios de terra castanhos claros
talvez brancos por fora
brancos da blusa côr de trigo
da côr das mãos ali esquecidas.

Na demora prolongada da noite
a máquina de lavar roupa
moderna não parava de trabalhar
com detergente e amaciador.

Os seios esses repousavam a casa
pratos de comidas para pássaros
onde se amacia e se embebe
o trigo ou o milho ainda por apanhar.

Seios de palha quase seca
no farol inventado da ilha
lua da antevisão do fumo
após o fogo de alma cansada.

Pela seara imensa do trigo
com as primeiras águas do dia
os primeiros sons do povo
no trabalho amanhece a poesia.

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