sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CORPO

(Madalena madalenas chocolate branco)

Vestida de branco na bicicleta
naquela hora terna da manhã
esguia pedalava à minha frente
com energia para aproveitar
o sinal aberto da passadeira.

O perfume devia ser de rosas
hálito e gosto de capuccino
sabores de madalenas doces.
Mas eu distraído não sentia
tinha os vidros fechados
e atento ouvia Haydn na rádio.

Em casa no sofá da televisão
e a família numerosa por perto
pensava - cão que ladra não morde.
Que atire o primeiro olhar
quem não tenha telhados de madeira
ou guiadores de papelão

De reencontrar na pesca
nas margens brancas do rio
a minha preferida Madalena
da Pimentinha de Elis Regina
de véu de túnica ao vento
na voz do anel apertado no dedo.

E ainda havia bem sabia
outra Maria ou Madalena Pecadora
que não tinha sido mulher de Cristo
não tinha nascido nem chegado pagã
dos livros do Livro Sagrado
- abençoada ousadia do olhar.

Esta gostava vestir-se de branco
por cima e por baixo eu via
na transparência opaca da luz
para prazer visual ou multibanco.

 Não era nada má não senhora
os brincos de cereja pareciam
e o baton intenso da mesma côr
a gata mansa de unhas perfeitas.

Mais tarde eu soube aí soube!
Madalena madalenas chocolate branco
junto ao mar serrote funcho ou punhal
a pouca distância da terra
da nossa Madalena do Mar.
- Deus que susto anjo me guarde!

Do gelo formatado dos olhos
ao fogo as setas de peito aberto
quem nos dera fosse o dela
- dizia sábio Pedro ao meu lado.

Era o gelo de boneco-de-neve ao sol
derretido no tremor tenso dos lábios
assim que abria a bela boca pequena
e fazia ouvir a sua voz afiada de tesoura.
Ó Madalena da encosta a lenha que pena!

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