sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

NO BAIRRO ALTO DO POVO

Enquanto a terra se cobria
de mil mares de água salgada
o barco deixou-se caír nos braços
contra as rochas sem uma palavra.

Brava a água depressa subia
pelas mãos lisas a secarem ao sol
e apagava as chamas do fogo
com algumas pedrinhas de sal.

Era o mistério da igualdade
era o ar puro da liberdade
que enfeitava a praça principal
desejo que envolvia a cidade.

E percorria tabernas e bares
os bairros insurrectos do sonho
ali no Bairro Alto do povo
onde ainda hoje se canta o fado.

O fado é feito também de silêncios
de frutos e pensamentos maduros
fruta verde colhida à socapa
lua nova sem ser acusada de ladra.

Com as primeiras luzes do dia
com as primeiras palavras do povo
na voz fadista amanhece a poesia
no trabalho anoitece o fado.

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