sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

PALAVRA

(se tiver pão e circo)

A condessa segunda
sem dar nas vistas
discreta e distraída
mas com as medidas
certas nos olhos
roçava sem ninguêm ver.

A pele da barriguinha lisa
ao tecido da farda
das calças coçadas
de fecho fácil de abrir
do motorista da empresa
mais novo que o filho doutor.

Eram as primeiras frases
do guião já aprovado
pelo director de ficção.
A história prometia êxito
grande sucesso de audiências
mais receitas publicitárias.

Pudera com um caldinho assim
- mulher madura podre de rica
mas ainda uma brasa a arder
cá com umas curvas um corpinho
um par de pernas de catálogo
e uns lábios carnudos
que qualquer revista masculina
pagaria uma fortuna
por uns semi-nus exclusivos.

Assistir ao lançamento
de mais um jovem talento
no papel de motorista
de serviço all-inclusive
das compras ao escritório
da garagem à cama da viúva
as cenas tórridas hardcore
para gula dos outros olhos
do lado de lá do filme.

Sabem se tiver pão e circo
o povo ficará grato
e se o pão não chegar
haverá circo a dobrar
que virtual esta vida
é um show cada vez maior.

Metáfora que antecede a poesia
e que passou ao lado da vida
entre paredes e muros de pedra.
A poesía extraída da pedreira
onde se constroem com gasolina
as estradas mais longas da ilusão.

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