sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ÁGUA

(dos seus olhos lindos da chuva)

Brincava com as palavras as de sempre
como quem despejava baldes de água
na areia seca da praia.

Construía sonhos e vertigens
castelos com essas palavras molhadas
património íntimo da paixão reiventada.

Contava os dias e as noites
todos os meses certos do ano
nos caminhos da nascente
de pedras por agora ainda verdes
até ao canavial do seu coração
ao sol o local mais próximo do poente.

Com o primeiro contacto do medo
escondia o sorriso envergonhado
das papoilas das tempestades
trazidas pelos ventos fortes
por cima das mãos gretadas
até aos lábios salgados das dunas.

Secava os seus olhos lindos da chuva
côr dos abetos-de-aquém-mar
para lá do condominio azul da água.

Brincava com as palavras
e não esquecia as metáforas
repetidas quase até à exaustão.

Depois deixava o bar em segredo
e regressava pela noite ao navio
com histórias de batota para contar
do dinheiro perdido do jogo do engate
das peças de roupa de contrabando
e das redes de pesca mais fortes do prazer.

A nudez transparente colhida do fundo do mar.
Quem poderia resistir a um chamamento assim?
Perguntava à poesia mesmo antes de a abraçar.

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