sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

METAL

(Esqueciam a pele do metal mais duro)

A chuva de pedra da tempestade
pelas nuvens há muito prometida
grossa chegou de súbito furiosa
quando já ninguêm a esperava.

Caíu sobre as telhas sujas do beiral
a chapa de zinco do telheiro
com vontade de ser útil de lavar
e de moderno a terra a frio tatuar.

Esqueciam a pele do metal mais duro
o coração na laminação do ferro
húmido da dor pelas mãos moldado
aos novos tempos da inquisição.

Dizia que no mercado de reposição
das peças e ferramentas de corte
de metal do trabalho internacional
não se ouvia uma só voz solidária.

Como as viagens de comboio
que da emigração sempre associei
aos exilados e aos perseguidos
que nem a poesia defender sabia.

Longe do fogo-posto do passado
na contra-luz mestiça da metáfora
com mestria o chefe-da-estação
com a chave-de-fendas no bolso.

Recordava a campainha da bicicleta
roubado ao melhor cinema italiano.
Regressava com o sonho quase perdido
da consciência colectiva da cidade
distante do dia de merecer o futuro.

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