quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A VIDA ETERNA


"Antes que eu rasgue estes versos
como quem rasga um vestido" Pedro Homem de Mello

Passeava descalça pelo mundo
pelos livros de vidro com morangos
desenhados e colhidos em Murano
comercializados com estilo em Veneza
sem um único corte na sola dos pés.
Passeava com um sorriso de escola toda.

Sem querer saber das igrejas profanadas
pelos guerrilheiros iluminados da razão.
Da excelência do marketing revolucionário
que garantia o melhor dos céus na terra
e a vida eterna na bala duma espingarda
para quem duvidasse de tamanha filantropia.

Passeava com botas e uniforme verde-oliva.
Esmagava as vidrarias e os morangueiros
altiva como os outros filhos da revolução
ao serviço do estado pai-benevolente
que por vezes tinha de usar o cinto-chicote
para o povo saber o que era o melhor para ele.

Diz-se que mais tarde quando sem botas
quis plebeia meia-nua voltar a andar descalça
como aprendera a fazer com a mãe-galinha
no novo mundo não podia porque os livros
tinham sido proibidos e o vidro derretido.
Apodreciam de podres as ideias dos inimigos.

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