quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DORMIR A TARDE


"A história da noite é o gesto dos teus braços"
Sophia de Mello Breyner Andersen

Enquanto vagabundas as palavras
assumem solidárias as nuvens brancas
em silêncio as despedidas à poesia
acertam a hora com as correntes do vento
frases perdidas sem saberem da escrita.

Enquanto isso a pele azul do lago
a bater à porta por um primeiro beijo
transparente na margem se rejuvenesce
com o fogo nocturno da paixão.

Do milagre no outono da eternidade
na desordem errante dos sentidos
nos paliativos da meia verdade
e dormir pausadamente a tarde.

Os amantes sem jogos nem sinónimos
para cantar juntam para rimar 
os fios do erotismo do linho
ao verde da velha cama de pinho.

A mistura da terra com as cinzas
com as ruas limpas das carícias
da casa de todos os rostos
por fora dos novos caminhos
no regresso às colinas dos sonhos.

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