quinta-feira, 2 de setembro de 2010

SEM ABRIR OS OLHOS


Mesmo sem abrir os olhos
deixa espalhadas umas pinceladas
na transpiração viva das cores
pelas altas temperaturas do alcatrão.

Ali onde às telas inacabadas
se acomoda o seu peito de pedra
em traços rápidos de mais unos dibujos
os últimos retoques dos corpos
para merecer um bom almoço contigo.

Mesmo sem abrir os olhos
recorria a todas as forças para decifrar
os segredos forrados de veludo
por detrás da sua janela fechada.
Sorriso ousado de trapezista sem rede
desenhado no dourado das cortinas.

Só muito mais tarde soube
mesmo sem sair da penumbra
que conhecia o histórico do seu olhar.
Os sinais da biblioteca o livro proibido
entregue por debaixo do balcão
por cima das saudades da tua mão.

À pressa a fugir dos olhos abertos
do competéncia dos agentes nunca ausentes.
Assim o calvário da liberdade
do mito da dita ditadura do proletariado
da vitória bruta do ferro sobre a insubmissão.

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