quinta-feira, 2 de setembro de 2010

HÁ RIOS CITADINOS NAS PALAVRAS


"Há rios que chegam subitamente
atraídos pelo fulgor dos dedos" Eugénio de Andrade

Há rios citadinos nas palavras
esquecidos sem querer no banco traseiro
do último autocarro da noite.
Palavras grossas que falam por si
impressas nas costas do pulôver.

Falam de poemas de ideias e resumos
com a roupa urbana bem justa
alongada sobre o corpo moreno
de sapato alto para subir e destacar.
Coxas que incendeiam a fotografia.

Da nudez captada pelo olhar
quando se vestia pela manhã
com as cortinas levantadas
pois com audácia digital da televisão
tinha aprendido as exigências do mercado.

Que se cultiva da abundante imaginação
das vendas paradas na loja de malhas
da torrada antes de saír de casa
já sem tempo nem alma para se arranjar.
A correr atrasada para o emprego.

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