quinta-feira, 2 de setembro de 2010

NAMOROS À CONSIGNAÇÃO

                                         A Leonard Cohen

Os dedos viajavam sem eira nem beira
por cidades vilas e outros lugares ermos.
Pelas ruas mais improváveis da alegria.
Continuavam pelos ombros a descer
até pararem no descampado da planície.

Continuavam a subir pela montanha acima
montados em bicicleta de competição
observando as marcas do assalto nocturno
deixadas ali por bandidos de lábios abelhudos
quando a maioria dormia que nem uma pedra.

Com receio da opinião pública juravam
que já não podiam com uma gata pelo rabo.
Dedos cinzento-escuro de tanto cigarro
gengivas castanhas apesar da escova
da cara cuidada e al dente da pasta italiana.

Dentes de lactícinio de tanto chocolate
comidos para ajudar a passar o café do tempo.
Do farnel de tanta azeitona preta para recordar
o local onde foram abandonados sem remorsos
no primeiro passeio dos namoros à consignação.

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