quinta-feira, 2 de setembro de 2010

HÁ UM OLHAR NOCTURNO


"Vejo o meu último dia
pintado em rolos de fumo"  Mário de Sá-Carneiro

Há um longo olhar nocturno
dos que nunca deixaram o dia
sintomas claros de salmoeira seca
com a tinta-da-china-mais-negra.

Sem os guardas dos bons costumes
doutores da revolução que descobrem
negando maresia desse mar riscado
que a culpa das desgraças e tragédias
é das carnes à mostra das mulheres.

Há um olhar nocturno infiel de injúria 
com as cores intensas do luto
da intolerância avassaladora do dogma
que nos deixa cada vez mais inquietos.
Saibam é que eu tenho vários filhos.

Que diram os poetas da poesia antiga
se soubessem pela vida ser preciso
escurecer a noite tapar a cara ensaiar a fuga
aos castigos-chicotes-da-punição-pública?

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