quinta-feira, 2 de setembro de 2010

LITURGIA DA CARNE PANADA


"Quero o teu nome escrito nas marés"  Manuel Alegre

Apesar de ter olhos e gostar de te olhar
não poderia imaginar que o mar atento
mais pequeno que na fotografia original
estivesse tão parado e tão calmo
no local mais improvável do teu porto.

Na liturgia da carne panada da marmita
transportada no xelim aveludado da biclicleta
novinha em folha no pão não havia melhor.
Só pensava em comer encher a barriga.

Tinha um laço na cabeça a prender
o cabelo com os brincos caídos a condizer
o cinto preto à cintura segurava o culto
passageira a saia curta era da mesma côr.

Do desígnio de deus e da filantropia do rei
do direito social à condição do contrato-promessa
e ao desporto a cavalo da nobreza sem tostão.
Com olhos de ver é bem melhor que a eficiência
a aliança estratégica do clero com o poder secular!

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