sábado, 9 de janeiro de 2010

A UTOPIA DAS MĂOS


Descendo a pé pelas encostas
da cordilheira inóspita da utopia
as metáforas chegavam frescas
dos bosques até ao sopé da poesia.

Era o mar salgado do Chile
de quase todos que trazia
nas palavras recolhidas pelo povo
com caracóis e ervas secas
raminhos de oregão e tomilho.

Trazia no bolso da camisa
barcos pequenos a remos
barcos de pesca com água forte
de pescadores pescando
e na pele queimada do mar alto
calças grossas de cotim bravio
navios navegando contra o vento.

As suas mãos profundas
caiando de branco as casas escuras
dos mais simples no bairro operário
dos mineiros das minas de sempre.
Trazia nas unhas nas mãos ainda sujas
e brancas da cal a camisa de flanela
da moda futurista aos quadrados.

Trazia polvos dos perigos das rochas
pimentos para assar na brasa e peixe fresco
acabado de pescar pelo irmão do destino.
Com cuidado dizem até as praias
da madrugada já clara após a noite
mais triste dos que pensam ter castelos
serem muralhas mais fortes que Deus.

A noite mais fria apesar do lume das mãos
da guitarra que oferecera ao seu povo.
Era o mar salgado do Chile
a noite mais longa por vezes iluminada
pelos seus versos proibidos
pela luz frágil da liberdade sincera
do farol da memória sem fim
na alegria destemida da voz.

Carlos Violeta Rodrigo Isabel
não sei se Victor Jara terá escrito
talvez não mas poderia ter cantado.

- Os trabalhadores sempre tabalharam
e quando não o fizeram é porque
estavam doentes ou no desemprego.

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