sábado, 9 de janeiro de 2010

CONFEITARIA CENTRAL


Côr de chuva às vezes sentado
na intimidade das açucenas claras
cliente ficava como ausente
dos pequenos detalhes urbanos
com os espelhos da barbearia
e os vidros virados para a rua.

Dálias encarnadas a abrirem-se
no contentamento profano
de poderem chegar ao céu
pela escada de mármore
da confeitaria central.

Poderia ser cego surdo ou mudo
mas triste e paspalhão não era.
Sabia o que queria sabia pensar
e dizer com os dedos das mãos
às vezes com a saliva negociar o pecado
até à última petinga no prato.
Comprar o perdão a preço de saldo.

Ela por detrás do balcão
estava no limite da paciência
vendia ovos-moles e pão-de-ló
bolos cremosos e outras guloseimas
e de longe parecia inquieta.

O falatório do povo da cidade
e das freguesias rurais à volta da blusa.
Por debaixo do damasqueiro
O umbigo salente não resistia ao orvalho
daquele analgésico verdadeiro.

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