sábado, 9 de janeiro de 2010

A NOITE E AS MĂOS

“Las manos parecían colgarle de los brazos en extraňo ángulo
como si tuviera rotas las muňecas; pero era Victor, mi marido, mi amor” Joan Turner

Prometo-te que um dia meu amor
um dia de sol ao fim da tarde partilhando
dores dos joelhos dores nas costas
as rugas vadías no oceano dos rostos
partilhando um copinho de aguardente
de uva fabrico caseiro não certificado.

Prometo-te que um dia meu amor
já com uma mão-cheia de netos
filhos das nossas filhas do vento
que como se fosse a última vez
seguro com as minhas as tuas mãos
pequenas cúmplices de tantos segredos.

Seguro as tuas mãos sedosas
ainda húmidas da maresia da manhã
pego em ti meu amor
como se faz a um ouriço perdido
a atravessar descuidado a estrada da vida
fora da passadeira do sonho.

Prendo-te entre os meus braços
de laranjeira recém-plantada
do próximo ano em flor
e nunca mais te devolvo à poesia
à nossa canção primeira
às palavras do futuro do passado.

Meu baguinho de arroz doce.
Quando repousei os meus olhos
fechados à força sobre a grossa manta
solidária que te protegia do frio da noite
meu amor soube então meu amor
sei que essas mãos eram as tuas.

Budapeste, Janeiro-Fevereiro 2009

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