sábado, 9 de janeiro de 2010

DE PATAS PARA O AR

“J’insulterai les bourgeois
Sans crainte et sans remords
Une derniėre fois”
Jacques Brel in “Le dernier repas”

O cão citadino do bairro arejado
De cabeça perdida ladrava furioso
Farto de engolir baba e saliva
Das provocações da gata da vizinha.

Dos desafios do lado de lá da vedação
Na rua pela trela o outro com a dona
Ar de gozão dentes à mostra mija no muro
Que eu ao menos passeio brutamontes.

Para que serve esse tamanho todo
Se estás aí fechado a vida inteira
E ainda vem o dono mandar calar
Com ameaças de um valente pontapé.

Vida de cão sem sorte e sem mulher
Sobre a qual bem poderia descarregar
A crispação acumulada raio da cadela
Gaja interesseira ó lá o que ela é.

Só a trazem faz o rei anos para a cobrir
Como se um reles barrasco ou galifão
Como simples operário pago à hora
Pelas leis de quem governa o mundo cão.

Amigo isto está tudo de patas para o ar
Não se pode dar uma boa coça a um gato
E os ossos são de borracha para entreter.
Só uma boa sublevação rafeira pode ajudar.

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