sábado, 9 de janeiro de 2010

UM CORPO DO DESERTO

“Moi je t’offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas”
Jacques Brel in “Ne me quitte pas”

Um corpo húmido no forno do deserto
Da África preta ou quase quase seca
Um corpo duro e rijo ao sol sem piedade
Dos ritos de onde é este meu irmão.

No solo mais duro e mais seco
Sem água e vinho sem cerveja
Chegava afinal fria gelada da vizinha
A arder da cordilheira ali junto ao Pacífico.

Corpo da floresta e da guerrilha
De corpos cansados de prisioneiros
Dos latinos comandantes manda-chuvas
Até aos lagos das pernas escravas.

Mesmo à lupa e a contra-luz
Um corpo de perfeição que devolvia
As dúvidas as contas e os recibos
Quando insistiam teimosos e brutos.

Lançavam-lhe gorilas de meter medo
Às canelas ao peito e às ancas e ela
Presenteava-lhes o seu mais genuíno
Franqueava-lhes por completo o arco-íris.

Tem sempre razão o freguês a freguesia
Até saldar a próxima divida por pagar
A próxima África irmã deixada de barco
A próxima refêm com sorte e televisão.

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