sábado, 9 de janeiro de 2010

NUMA LOJA DE TAPETES

“Je vous ai apporté les bonbons
Parce que les fleurs c’est périssable”
Jacques Brel in “Les bonbons”

Tinha no bolso um livro de cheques
Como era poupado tinham cobertura
Vendia numa loja antiga de tapetes
Gostar dela só podia ser sua loucura.

Como um morcego perdido na noite
No refúgio fictício do tempo
Escondido na caixinha de costura
Assustado com os plágios do vento.

Do sotão com vista para as traseiras
Do pomar cuidado pelas freiras
Da caridade a mãe melro voava baixo
Com a lesma pendurada no bico.

Cem quilómetros de camioneta
Para passar a tarde de Domingo
Acompanhar até ao ensaio do coro
De volta vinha sempre sempre sózinho.

Em casa estava cheia a fruteira
Mas era outra a fruta que queria
Apenas que ela fosse a sua feiticeira
A montanha maior da sua alegria.

A água muda quase desvanecida
Corre sequiosa pelo corpo pelo carvão
Os silêncios pela pedra esquecida
Do que foi um dia o seu coração.

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