1. TEXTOS
Na fachada
redonda do prédio principal
estava escrito
bem grosso para inglês ver
- O amor passa
mas os tomates ficam.
Para se redimir
argumenta com a televisão
a qualidade do
ensino, por isso primeiro
agradece com
gosto e depois come com prazer.
Também não é de
estranhar meu avião-poente
que pensa que
tudo sabe e nunca se engana.
- Um petisco
assim não se papa todos os dias.
Peitos brancos e
macios, ancas rijas e claras
tão ao gosto do
fino paladar da santa nobreza.
Apreciador do
doce conventual mais apetitoso.
De virgens em
conserva lavadas em água benta
pela bigamia
intelectual do velho testamento.
Dogmas, profetas
de luxo e outros textos sagrados.
2. MORTE
Uma boa ideia é
um pedaço de quase nada.
Rasga-se, têm a resistência de papel
arde bem e num
ápice se faz cinza.
Do verniz do
retoque da tinta branca
da interpretação,
a censura da actualização
para corresponder
ao pensamento que domina.
Está há muito
cansada de cá estar
mas não tem
pressa nenhuma em partir.
Morrer que seja
de repente e de barriga cheia.
Talvez tenha
chegado a hora da ingenuidade
de abrir todas as
portas às palavras
ao portão
perfeito do coração e sonhar.
Dizem poesia que
por serem livres, o amor
e a morte, andam
sempre de mão na mão.
Passeiam por
perto pelas terras do ciúme
perto da morte da
sorte, da morte do amor.
Desse amor que
pensavam ser eterno.
3. DESPEDIDA
Com frio a chover
ou a fazer sol
o pescador vai
fazer como se fosse à pesca
a remar sentado
parado no mesmo sítio.
Quem se aproveita
e ganham e comem o pão
são as vacas em
botão e as formigas inimigas.
Espalham ainda
mais tristeza nas redes sociais.
No mosteiro do
mar o não-profeta do futuro
de braços abertos
perguntava em voz alta:
- que será do
povo se não houver trabalho?
Deste lado da
margem barqueiro
mesmo esperada, a
morte de um amigo
é o anúncio
antecipado da nossa despedida.
No acerto de
contas com a vida
essa mão cheia de cinzas
essa mão cheia de cinzas
estas serão
possivelmente
as minhas últimas palavras.
as minhas últimas palavras.
Budapeste e alguma Europa (2012 – 2014)
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