segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

POETA HÚNGARO


Para Eugénio Pinto Braga

1. Há dias fui fazer uma reportagem no aquário.
Estava agitada a peixaria do cardume.
Assisti a curiosa e violenta discussão.
Amores desavidos e vidas na rua. Escamadas.
Vai para a truta que te traiu! Já disse.
Vai para a truta que te traiu!
Gritava alterada e delambida uma sardinha
toda enfarinhada em pinturas de conserva.


2. Na fonética perfeita da capitalização
do sonho dos cursos de águas dos loucos
e dos amantes sem direito à indignação
os pingos da sopa de abóbora-menina
feita por ti já caíram no meu pulôver novo.
Todas as manhãs te vou despertar com um beijo.


3. O homem já chegou à Lua
e qualquer dia vai a Marte ó Marta cozinheira
com um bitoque no prato e um ovo a cavalo.
Até parece que nos tempos que não passam
umas luvas de cabedal valem tanto
como um par de nádegas avulso.


4. Foi com um giz encarnado comprado
a prestações no armazém do povo
que desenhei ontem à noite para ti
o louva-a-deus do materialismo histórico
enquanto o Nuno pescava uma bela tainha.

Mas é a meiguice das palavras
pois a farinha da vizinha é melhor que a minha
que eu tenho sobretudo para oferecer
ao teu sorriso secreto e pedir
que sejas como cerejas quanto mais as como
mais vontade tenho de te comer mesmo crua.


5. Último flash meu bicho-da-seda.
József Attila é um dos melhores poetas do mundo
para toda a vida o meu poeta húngaro.

Budapeste, 21.02.1981.

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