segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ANTÍTESE


A José Afonso

Este poema é muito mais que um poema
que uma nau pequena à aventura
ou uma emboscada furtiva.

Este poema é muito mais que um poema
é a minha dúvida quase esquecida
o silêncio inaceitável a entrega
fraterna das minhas ideias igualitárias
a destruição final de todos os dogmas.

Este poema e o meu sangue nocturno
o teu nome o grande edifício construído
com o barro diário da minha ingratidão.

Este poema é muito mais que um poema
é uma época incerta e provisória
talvez na aurora de um grande amor
que não cabe nas palavras na poesia da paixão
a desvanecer o tempo a diluir-te no tempo.

Este poema é a afirmação convicta que o futuro
não é propriedade privada de ninguém
e adormecer inquieto com a minha antítese.

Belgrado, 30.01.1981.

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