segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

MORTE CORAÇĂO

Pouco a pouco trespassamos os sintomas
do vidro os sedimentos inferiores da água.
A boca intacta. A boca prefácio da saliva
a península oculta na parábola do dia plural.
Nutrimos o passado de pequenos espelhos
com chá camomila de alfarrabista
sistemas nervosos de encomenda por catálogo
e a laranjeira aromática do renascimento.
Tão pouco amor por tanto dinheiro!
Há um frio material que me percorre inútil.

Na ficção palavra de seleccionar imagens
e acertar as horas na espera à porta do cinema.
Na procura imediata da fuga alvará da paixão
gostaria de a encontrar para assim me esconder.
Depois o passageiro triste vem muito só
para sermos nós. Roseira cadela em flor.
Na viagem aos teus olhos somos nós
vestidos pela vastidão na baba do gafanhoto
que nos anulamos que destruímos a meiguice
do fogo o apara-lápis do desejo.

Na difusão do fumo no contra violino da luz
é a morte coração do meu sangue
que se apaga o corpo do coração que se fecha.
A morte bate sempre ritmada às sete da tarde
nas forças extenuadas da palavra urbana
no autocarro réptil da saudade. Os braços
ferrugem dos segmentos de ferro desaguam
em nós e na longevidade dos sentidos.
Estarei sempre sempre do lado dos caídos.

A passo pisamos os dedos inéditos do cativeiro.
Um fracasso completo a excursão ao futuro.
Naturalmente não acreditava no que dizias
era uma inovação de categoria duvidosa
como o cowboy recentemente eleito.
Naturalmente acredito na água na luz
no nascer puro e insubmisso da poesia
na doçura e na amargura do azul dos olhos
mas definitivamente não acreditava em ti.
Nem no disfarce rapariguinha da diversidade.

Não escrevo do amor da intuição nocturna
ou da metáfora da neve. Escrevo de esmolas
de dádivas e de dúvidas de hipotecar a liberdade
na indiferença das mãos enlameadas do passado.
Descemos a persiana dos lábios fascinados
pelo gozo do ouro pelo navio do lume
com sabor a batata-doce que aos domingos comia.
Só a morte nos separa dizíamos ainda há pouco.
A mentira é o cipreste mais ambicioso da vida
e da morte tenho fundadas suspeitas.

A nossa voz ouvia-se sem mágoas
nas sombras as mais distantes do silencio.
Meu amor que sejas como as cerejas
milagre cheia de vida por debaixo da pele!
Meu amor de papel toca-me de novo
toca a nossa canção uma última vez!
Depois a vida é esta vespa sem ferrão
gato por lebre. Frequentamos bares marginais
bem bebidos e refrescamos as bocas
entre aguardentes lírios de plástico e moscas.

Partir é urgente. Partir é dar o beijo
mais impreciso e impessoal da sílaba
por lapso invocar a terra que nos espera. Profunda.
Partir com todas as palavras das últimas águas
é diluir a cor oculta nas páginas do fogo.
Partir meu amor partir é prolongar o coração!

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