segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ECONOMIA POLÍTICA

Por vezes passo infinitos a olhar o silencio.
Infinitos a pensar a diluir-me com os sonhos
e deles fugir nem eu sei quando nem para onde
para criar e assumir a escrita a minha ferramenta.
A desejar o confronto directo com a folha de papel
que atenta à minha frente me observa e se insinua.
A arder continua a minha consciência guerreira
de me saber tão só por rejeitar a vaca leiteira
por não suportar a manada. De me sentir
sábado e domingo dia de semana ave nocturna
de envelhecer a tarde refazer a madrugada.

Houvesse o que houvesse hoje não sabia morrer
iludir incendiar o estrume as palavras do povo.
Saberia apenas olhar ouvir e não dizer nada.
Sim! Olhar-te os cabelos e o pescoço
os ombros e os seios firmes a semente
na planície do ventre. No sexo divagar em nós.
Da cozinha pública bafo de óleo esturrado
resíduos e fumos da química pesada.
A coragem de me sentir acompanhado
no caminho da destruição. Não tenho falta
de outro poema tenho necessidade de ti.

Comprei dois quilos de cerejas para mais tarde
as comer sózinho. Uns gémeos encantadores
e uma mãe linda de viver! Sinais luminosos
eléctricos modernos e plátanos resistentes
onde as raposas espreitam os frutos sem soutiens
e os sapatos da montra que calçam a poesia.
Necessidade de muito amor concreto
da materialidade natural do sorriso a pureza
nas mãos do primeiro beijo a falta de amor jovem
de amor que ainda não conhece as surpresas
a fúria do filtro secreto a sonolência das cinzas.

Mesmo que quisesse hoje não sabia morrer
sem imortalizar o circo imortalizar-me a mim.
Não tenho a certeza se tive papeira e sarampo.
Aos sete anos saímos da aldeia definitivamente
porque o meu pai não quis que a filha fosse costureira
ou operária numa das fábricas de telha e tijolo da terra
e até o liceu frequentámos em vez da escola
comercial e industrial. O resto fica para depois.
No meu rosto carvão de aproximar a distância
amor é sobretudo a baunilha do chocolate
os ventos azedos na desigualdade das ideias.

E eu a pensar em ti imagina a pensar em ti
não porque não goste mas porque é estranho.
Não sabia morrer sem primeiro te encontrar
tu que desde Dezembro me queres conhecer.
Uma voz doce pelo telefone a manter um coração
suspenso. De par em par as portas do meu coração.
Sem falar do exame final da economia política
da mais-valia relativa e dos custos de produção.
Não sabia morrer sem primeiro te encontrar.
Talvez o segredo se esconda nas marés da tua boca
se de madrugada entrar no cais do teu corpo.

Sem comentários: