quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MUDAR DE VERBO


"com seus lănguidos olhos me contempla,
e com toda a espécie de encantos
me lança para as malhas inelutáveis da Cipris"
Íbico de Régio (Trad. Frederico Lourenço)

Distante o barco leve dos enigmas
e dos segredos que nem a poesia conhecia
flutuava à superficie dos teus olhos
no rio intenso das chamas do teu olhar

Persistentes e combativos faziam fronteira
entre a vida e o mundo das areias douradas
na peregrinação das promessas dos amantes
pela meseta inquieta da honra e da conquista.

Pensativos como quem queria salvar
do castigo colectivo a grega mais bela
- Helena que a coragem não nos falte
nem que para isso tenha que entrar e ali ficar.

Ficar para sempre à sombra do cobre da tua pele.
Nem que tenha que esperar séculos a escurecer em vão.
Deixar crescer as barbas de dogmas muito antigos.
Mudar de verbo. Trocar de deus. Repartir o pão.


Budapeste, 2011-2012. Viena e Praga.
Bled, Portoroz, Lisboa e Balatongyörök

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