À Maria João
Às vezes quero escrever e não sei!
Talvez seja do vazio inesperado das palavras
e da filosofia desmentida dia após dia
as muitas teorias – baratas – da conspiração
e a mitologia universal por interpretar.
Quero viajar na liberdade da poesia
com as metáforas do vento
na procura da luz verdadeira
que um dia talvez encontre e afinal
só pontapeio latas como aprendi em Charlot.
Nesses momentos é que eu sei
que um sapato mesmo roto é um sapato
não é um camelo de infinitas terras frias
que mesmo acompanhado mesmo sozinho
o caminho pelo deserto tem de ser meu.
Depois um camelo como eu era
como eu sou anda descalço e feliz
não dá pontapés nas pedras não interpreta
apenas as transforma e as canta
na emoção das histórias por inventar.
Às vezes quero escrever e não sei!
Até porque hoje o fascínio não chegou
dissimulado de surpresa como costuma
nas roupas lindas da novidade do luar
nas roupas intensas das asas do prazer.
Budapeste, 25.11.1980.
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