terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ADEUS

Um comboio que parece uma tartaruga.
Uma carruagem espanhola do tempo de Franco.


Aqui o fogo já não é revolta
na insurreição permanente das gargantas
sapudas ou das agulhas dos dedos
e o suor a resina das teias de aranha.
Adeus mãe adeus cidade adeus adeus.

Aqui o tempo é a secura da cinza e do fumo
das folhas no adeus prolongado
à humidade do olhar no comboio fugitivo
do sonho nos sentidos da geografia
e acender uma vela no coração do vento
as chuvas mornas na despedida de Agosto.

Eu entro no silêncio viajante
a ignorar os outros e a dizer
adeus mãe adeus cidade adeus adeus
quando voltar hei-de trazer umas asas de pau
ainda maiores para voltar a partir
partir e regressar com um cordel na ponta.

Levo com os olhos-de-água
todos os recantos deste pequeno país
a frescura e as sombras das portas-de-sol
e as maçãs azedas como eu gosto.
Quando em contracapa te leio pátria
descubro tudo em ti pátria a única que tenho.

V. Franca das Naves, 25.08.1980.

Sem comentários: