MULHER COM MAR NO OLHAR
O melhor da mulher talvez o olhar
é para mim o mar da mulher. Ruy Belo
Cuerpo de la mujer o mar de oro
donde, amando las manos, no sabemos,
si los senos son olas, si son remos. Blas de Otero
Approchez-vous de cette femme et demandez-lui
si la lueur de ses yeux est à vendre. André Breton
Mulher com mar no olhar
Mulher com a água fresca da sua fonte
que traz o cheiro do mar no seu olhar.
Na festa do amor cabe tudo que faça bem
e muito mais, tudo o que não seja inocente.
Caminhar para no final da aventura
descansarem os dois de olhos abertos.
Por debaixo da reconstrução da noite
dos vestidos transparentes da cidade.
Com a tua pele desenhada a quente
no veludo fino dos nossos desejos.
O que é amar e sobreviver ao amor
sem acordar juntos na manhã seguinte?
Nenhuma mulher se chama mar
Porque será que no meu país nenhuma mulher se chama mar
perguntava ao final do dia a poesia, inquietava-se o poeta.
Esse mar azul que há centenas, milhares de anos nos envolve
e nos seduz como essa mulher do sonho, deusa feita milagre.
A mulher ou deusa do mar que da terra fértil da paixão
da celebração da festa, tirou o lenço da sua cabeça perfeita
cabeça de modelo e amante do escultor anónimo da palavra.
Tirou o manto para mostrar melhor o olhar e o sorriso
os mais lindos da praia, de todas as praias do mundo
que vai e vem e fica com a baixa e a praia-mar do amor.
Porque será que no meu país nenhuma mulher se chama mar
perguntava ao final do dia a poesia, inquietava-se o poeta.
Esse mar azul que há centenas, milhares de anos nos envolve
e nos seduz como essa mulher do sonho, deusa feita milagre.
A mulher ou deusa do mar que da terra fértil da paixão
da celebração da festa, tirou o lenço da sua cabeça perfeita
cabeça de modelo e amante do escultor anónimo da palavra.
Tirou o manto para mostrar melhor o olhar e o sorriso
os mais lindos da praia, de todas as praias do mundo
que vai e vem e fica com a baixa e a praia-mar do amor.
Demorava-se na rua
Alongado o seu corpo de lua cheia
Sentado sobre as suas próprias ancas
Tinha na terra a pose perfeita da ternura
A forma e o sabor exacto das amoras.
Demorava-se na rua com o xaile da demora
e protegia-se do sol com o véu da distância.
Era no meu tempo o conteúdo e a substância
a dádiva que não se foi embora, a minha hora.
Foi quando o sonho se fez vida e lhe deu canto
lhe deu o nome de menina e de mulher adulta.
A beleza dos detalhes e a diáspora do coração.
Alongado o seu corpo de lua cheia
Sentado sobre as suas próprias ancas
Tinha na terra a pose perfeita da ternura
A forma e o sabor exacto das amoras.
Demorava-se na rua com o xaile da demora
e protegia-se do sol com o véu da distância.
Era no meu tempo o conteúdo e a substância
a dádiva que não se foi embora, a minha hora.
Foi quando o sonho se fez vida e lhe deu canto
lhe deu o nome de menina e de mulher adulta.
A beleza dos detalhes e a diáspora do coração.
Tão linda a superfície de água nos seus olhos.
A sua vida contada dava um filme muito belo.
Como gostaria de ser eu a escrever o guião.
Vem bater à porta por um beijo
Oiçam, enquanto a pele verde-escuro do lago
se mistura com o silêncio parado do barco
em paz, o amor adormece como um menino
e o murmúrio vem bater à porta por um beijo.
Em que fenda se enfiou a centopeia da paixão?
Ouviu-se ao longe o meu suspiro profundo?
É o suspiro de quem ama e não pode abraçar
de quem sente, mas não vê nem pode tocar.
Deixa-me saborear devagar as tuas palavras
Desfolhando atento as páginas do teu corpo.
Que seja eu a colocar a bracelete no tornozelo
e a poesia a escolher a saia acima do joelho.
Oiçam, enquanto a pele verde-escuro do lago
se mistura com o silêncio parado do barco
em paz, o amor adormece como um menino
e o murmúrio vem bater à porta por um beijo.
Em que fenda se enfiou a centopeia da paixão?
Ouviu-se ao longe o meu suspiro profundo?
É o suspiro de quem ama e não pode abraçar
de quem sente, mas não vê nem pode tocar.
Deixa-me saborear devagar as tuas palavras
Desfolhando atento as páginas do teu corpo.
Que seja eu a colocar a bracelete no tornozelo
e a poesia a escolher a saia acima do joelho.
Diz serra diz mar
Porque se insinua de novo a madrugada?
Diz, foi por ti que a serra adormeceu?
Que luz insubmissa da tua lua furtiva
ilumina a noite da nossa sombra cativa?
Faz como sabes e sem pressas porque o amor
é como o mar, tem tanto de calmo como bravio
Porque se insinua de novo a madrugada?
Diz, foi por ti que a serra adormeceu?
Que luz insubmissa da tua lua furtiva
ilumina a noite da nossa sombra cativa?
Faz como sabes e sem pressas porque o amor
é como o mar, tem tanto de calmo como bravio
com tempo para escolher a cor do teu colar.
É único como as tuas frases de alecrim dourado.
Cheiros, sementes e ternuras de um sonho lindo
vão acompanhar o meu sono pela noite dentro.
Diz serra, que seria do mundo sem te amar?
Diz mar, que ficaria de nós sem o nosso amor?
É único como as tuas frases de alecrim dourado.
Cheiros, sementes e ternuras de um sonho lindo
vão acompanhar o meu sono pela noite dentro.
Diz serra, que seria do mundo sem te amar?
Diz mar, que ficaria de nós sem o nosso amor?
Na dobra do teu sorriso
As mãos, os ímpetos acompanham
e os seus dedos não se enganam
no lento desabotoar de cada botão
no acelerar do bater do seu coração.
Por acaso, soube nesse dia ao fim da tarde
na Lisboa fraterna, que o nosso primeiro beijo
não estava esquecido nem se tinha perdido.
Tinha cuidado dele como a um filho menor
a uma chama que chama, uma fogueira maior.
Estava cuidadosamente guardado
na gaveta da sua mesa de cabeceira
na dobra do seu sorriso fascinante.
Na dobra do seu olhar deslumbrante.
As mãos, os ímpetos acompanham
e os seus dedos não se enganam
no lento desabotoar de cada botão
no acelerar do bater do seu coração.
Por acaso, soube nesse dia ao fim da tarde
na Lisboa fraterna, que o nosso primeiro beijo
não estava esquecido nem se tinha perdido.
Tinha cuidado dele como a um filho menor
a uma chama que chama, uma fogueira maior.
Estava cuidadosamente guardado
na gaveta da sua mesa de cabeceira
na dobra do seu sorriso fascinante.
Na dobra do seu olhar deslumbrante.
As metáforas eram escassas
Livres, as metáforas eram escassas
para tanta dádiva, para tanta emoção
tanto partilha, descoberta, alguma poesia.
O brinco perdido foi pela ternura encontrado
no restaurante mais próximo da nossa casa
no casaco de malha esquecido no teu olhar.
- Que felicidade a minha, que exaltação
sentir-me na estação esperada e desejada
abraçada e beijada no meio da multidão.
Foi o mapa íntimo da viagem prometida
desvestida pela aventura da imaginação
quando a paixão ainda era a própria razão.
Livres, as metáforas eram escassas
para tanta dádiva, para tanta emoção
tanto partilha, descoberta, alguma poesia.
O brinco perdido foi pela ternura encontrado
no restaurante mais próximo da nossa casa
no casaco de malha esquecido no teu olhar.
- Que felicidade a minha, que exaltação
sentir-me na estação esperada e desejada
abraçada e beijada no meio da multidão.
Foi o mapa íntimo da viagem prometida
desvestida pela aventura da imaginação
quando a paixão ainda era a própria razão.
No barco do soneto
Vai palavra vai deixa o outro poema
Embarca nua no barco do meu soneto.
Vai e vem e volta comigo na sua vela
Espalha e desafia as metáforas da vida.
Trazida pela sedução dos ventos da alegria
Pelo mar mais forte do velho mito bendito
Vem ancorar comigo no meu novo paradigma
Vai e vem sem medo até a praça da poesia.
Da surpresa punha a mão na boca
Como quem não acreditava
Ser possível ser tão bom.
Como ir ao céu antes de morrer?
Perguntava com um sorriso maroto
Que não deixava dúvidas sobre a resposta.
Vai palavra vai deixa o outro poema
Embarca nua no barco do meu soneto.
Vai e vem e volta comigo na sua vela
Espalha e desafia as metáforas da vida.
Trazida pela sedução dos ventos da alegria
Pelo mar mais forte do velho mito bendito
Vem ancorar comigo no meu novo paradigma
Vai e vem sem medo até a praça da poesia.
Da surpresa punha a mão na boca
Como quem não acreditava
Ser possível ser tão bom.
Como ir ao céu antes de morrer?
Perguntava com um sorriso maroto
Que não deixava dúvidas sobre a resposta.
Há um sorriso malandro
Pacientemente foi chegando à minha vida
como a água da chuva que se infiltra na terra.
Lenta e silenciosamente sem ninguém o saber
fez-se hóspede de toda a minha alma vadia.
Nos seus olhos nocturnos há um sorriso malandro
que se envolveu com eles e os faz brilhar de malícia.
Sente-se no sabor a doce de morango ou destino
que deixa na sua boca fechada o paladar da carícia.
Depois de tomar com tempo o pequeno-almoço
para imaginar o encontro da tua barba no meu rosto
para que seja intenso ponho o meu vestido preto.
O desafio da minha vida é cultivar o nosso amor.
Cuidar do seu canteiro para que venha a ser flor.
Pacientemente foi chegando à minha vida
como a água da chuva que se infiltra na terra.
Lenta e silenciosamente sem ninguém o saber
fez-se hóspede de toda a minha alma vadia.
Nos seus olhos nocturnos há um sorriso malandro
que se envolveu com eles e os faz brilhar de malícia.
Sente-se no sabor a doce de morango ou destino
que deixa na sua boca fechada o paladar da carícia.
Depois de tomar com tempo o pequeno-almoço
para imaginar o encontro da tua barba no meu rosto
para que seja intenso ponho o meu vestido preto.
O desafio da minha vida é cultivar o nosso amor.
Cuidar do seu canteiro para que venha a ser flor.
Vens da Finisterra
se tiver o teu carinho nunca mais estarei sozinho.
Primeira versão
Hoje, com mais do ar da nossa terra
e um pouco menos do frio da serra.
Com um pouco mais do pó do caminho.
Tu vens e eu nunca mais estarei sozinho.
Segunda versão
Com a suave ousadia do teu linho
e o gosto encorpado do meu vinho.
A arquitectura trabalhada do teu friso
e os meus dedos na ranhura do postigo.
Pelas veredas do pão doce e do chão liso
cachopa espiga, fino açafrão da nossa terra
para embalar a madorna do teu sorriso
vens ao meu encontro lá da tua finisterra.
Hoje, com mais do ar da nossa terra
e um pouco menos do frio da serra.
Com um pouco mais do pó do caminho.
Tu vens e eu nunca mais estarei sozinho.
Segunda versão
Com a suave ousadia do teu linho
e o gosto encorpado do meu vinho.
A arquitectura trabalhada do teu friso
e os meus dedos na ranhura do postigo.
Pelas veredas do pão doce e do chão liso
cachopa espiga, fino açafrão da nossa terra
para embalar a madorna do teu sorriso
vens ao meu encontro lá da tua finisterra.
Há que estugar o passo e aligeirar o caminho
para a luz convidativa dos teus olhos
para o luar único e fascinante do teu olhar.
De mãos abertas, pedaços do meu destinose tiver o teu carinho nunca mais estarei sozinho.
Xisto das palavras
"Elle a la forme de mes mains" Paul Éluard
Na lentidão da saudade as grandes cheias
corriam mornas para o regaço que as desejava.
Juntavam-se no chão descamisado do milho.
O rio prometia a melhor colheita da década.
Na eira ao fim do dia era o tempo do namoro
com o trigo maduro dos teus olhos à minha espera.
Peças de cerâmica extraídas do xisto das palavras
ânforas, taças ou bilhas partidas pelas danças
as pernas ao léu abertas pelas carícias lentas.
Quanto mais lentas, mais o fogo se aviva no olhar
como o líquido que resvala e escorre para o teu mar
pela fresta para o fundo da tua gruta, bela sala de estar.
Na lentidão da saudade as grandes cheias
corriam mornas para o regaço que as desejava.
Juntavam-se no chão descamisado do milho.
O rio prometia a melhor colheita da década.
Na eira ao fim do dia era o tempo do namoro
com o trigo maduro dos teus olhos à minha espera.
Peças de cerâmica extraídas do xisto das palavras
ânforas, taças ou bilhas partidas pelas danças
as pernas ao léu abertas pelas carícias lentas.
Quanto mais lentas, mais o fogo se aviva no olhar
como o líquido que resvala e escorre para o teu mar
pela fresta para o fundo da tua gruta, bela sala de estar.
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