terça-feira, 8 de agosto de 2023

A magia do mar

Antes da hora a porta do quarto abriu-se 
os olhos em instante sem tempo colaram-se
e disseram sem uma única palavra tudo 
o que nos últimos meses tinham guardado.
 
Os sorrisos da sedução cruzaram-se
irresistivelmente em ternura e em silêncio.
Na intensidade diziam tudo da sua entrega 
dos dias e noites sonhadas do recomeço.
 
As janelas estavam de novo abertas ao mundo 
os portões do jardim com as flores da vida
do encanto do amor em apenas um sorriso. 
O fascínio do olhar sem troca de uma palavra.
 
Eis as imagens simples do amor 
que quer estar junto para crescer 
que chegou da terra da água e do mar. 
Com a terna magia do mar do seu olhar.



Lábios do destino
 
Primeira versão 
Para depois das tangerinas dos dedos
essa doce alquimia na conjura do sono
indicarem a saída marítima dos segredos.
As areias desejadas, os lábios do destino.  
 
Segunda versão 
Já no porto de abrigo antes de saírem 
pediu as costas dele para se encostar 
escolher os brincos e lhe apertar o colar.
Decorar a boca e os lábios de beijos.
 
Com as mãos e os dedos do destino
pediu para que o deixasse embriagar 
pelo perfume da rosa do seu jardim  
como tinham prometido um ao outro. 
 
Porque contigo sobeja-me em desejos
o que me falta em palavras e em versos. 
Até hoje, nunca fui assim de ninguém.
Sabes, andava há muito tempo atrás de ti
és o único diamante que trago no peito. 



A noite desce
 
Na casa cinzenta do meu mundo anoitece. 
Lenta, descalça e escura a noite desce
sobre a sala, a mesa redonda de pinho
trazendo a luz para desbravar o caminho.

No véu transparente que do céu a noite estende
entre as árvores envolvem-se corpos aos pares
entrelaçam-se como tranças ou gemidos. A sombra 
entre as colinas era o único decote do meu olhar.

Com a benevolência discreta e cúmplice da noite
guardiã atenta de segredos que a ninguém dirá
sabe que a nossa viagem não acaba à meia-noite.
Há quanto tempo que não comiamos uvas com pão! 
Se não fosse a mentira, teria algum valor a verdade?



O azeite na barriga do luar

A mostarda e o mel abundante da tua boca   
O desafio do sal e a pimenta do teu sorriso
O azeite puro e vinagre fascínio do teu olhar
Para seduzir a luz da vida na barriga do luar.

O tempero a canela polvilhada dos teus seios
Com alho e alecrim selecionado do teu ventre
Subir e descer na erva doce das tuas pernas
Os condimentos das linhas curvas do teu corpo.
 
O lote das especiarias no barco das tuas coxas 
Os desenhos a dedo na praia das tuas nádegas. 
E ainda o perfume do teu aroma mais íntimo
A ventania a crescer na voz forte do teu prazer.



Os dedos sabem o caminho

Primeira versão   
Calcinhas rimam com carapau e sardinhas  
e salada rimam com azeite e sobremesa.
Sutiã não rima com pão, mas para o caso tanto faz  
que os dedos sabem o caminho da nascente até à foz.

Segunda versão 
Ciúme desse amor que não se partilha com ninguém  
com abraços, os seus beijos apaixonados, parecidos  
com os que terão sido os primeiros beijos da Criação.  
Nada de requintes, apenas entrega, fuga e ardor.  

Depois no delicioso entardecer das minhas mãos    
naufragar na fenda, no misterioso rio da paixão.  
Imaginar, são os meus olhos que deslizam em ti.

Despertar pensamentos raros em rima, que calcinhas
rimam com carapau e sardinhas com azeite e sobremesa.    
Sutiã não rima com pão, mas para o caso tanto faz    
que os dedos sabem o caminho da nascente até à foz. 



Dança das nádegas

Subiu as escadas até ao último piso do mastro
E continuou em passo apressado para não perder 
Aquela visão de filme da dança das nádegas
Daquela mulher desconhecida que fazia lembrar 
A dança perfeita de outras conhecidas bandeiras.
 
A Afrodite dos cabelos curtos para novas conquistas 
Muito do que desperdiçou foi por não os querer todos
Pela sua formosura podia escolher a seu belo prazer 
E não precisava de ser perfumada pelas Três Graças.  
 
Os melros jovens dos seus olhos 
E os pintassilgos da sua voz
Com o licor de mirtilos dos lábios 
para acompanhar bolo de arroz
Em repouso entre os seus joelhos. 
 
Sabia água é vida e o vinho outras tantas miragens 
Que as coisas mais importantes estão nos detalhes 
Que nesse dia a sorte e o alinhamento dos planetas 
Com sol a pique, poucas sombras ou guarda-chuvas 
A tinha trazido até ele, apreciador de belas paisagens.
 
Pelas ruas da sua cidade e passeios das avenidas 
Com a dança ligeira do seu leve caminhar  
As suas nádegas ainda davam mais nas vistas.
Hoje apetece escrever, imaginar as suas entregas 
Sem lingerie e sem corpete, sem vestido nem calças. 

Com o celeiro cheio de palavras 
Sem pensar em outros belos terraços 
Com passados e destinos ousados 
O mar calmo, corpo e arroz cremoso
As marés baixas das novas metáforas. 



Rosa Mármore rosa fogo 

Com as laranjas doces do largo
e as romãs sagradas do passado. 
As uvas que cresciam na parreira
e por nós se juntavam na praça. 

A escolha do vestido que mais a favorecia 
dos brincos dos anéis e das pulseiras 
o colar para o deslumbrar demorou dias.
 
Vestiu-se e arranjou-se frente ao espelho 
com o desejo de mulher que sabe o que quer
para nesse fim de tarde à pressa ele a despir.
Para ele sem pressas, com tempo a possuir.
 
Era a sua nova e a mais desejada conquista 
por quem tinha fechado as páginas do livro
que vinha do passado de outros romances.
 
Ele por nada do mundo troca de rosa
que perfuma o jardim do seu coração.
Rosa de rua rosa bela rosa de lapela.
Rosa mármore rosa fogo rosa vulcão.



Guardar o chocolate do seu olhar 
 
Quero guardar e prolongar 
o doce fascínio do seu paladar.
Depois aprender a degustar 
devagar o chocolate do seu olhar. 
 
Primeiro faz tudo para ser a mais bela 
a mais atraente e a mais feminina.
Depois entre bocejos por dissimular 
preparar-se para enroscada adormecer 
e já não se importa com os que a olham
basta-lhe ser a menos feia da sua rua. 

O verso mais familiar do desejo
com as linhas redondas da argila
tinha como estava deitada a forma
a moldura perfeita do seu corpo. 

Não penses! É apenas impressão tua
conversa fiada de quem espera resposta
para que me digas que sou a mais linda.
É tão bom ouvir elogios mimos e piropos
agora que com medo das acusações
não há homem decente que o faça. 
 
No sofá do seu abraçar perfeito 
Nas curvas do seu leve caminhar 
Na praça aberta do seu sorriso 
Na ribeira urgente do seu olhar. 



Se fazem vinho de maçã e de romã

Se fazem vinho de maçã e de romã
ainda antes de a terem visto de perfil 
por que não de morango ou de amora
e beber com tempo no seu vale gentil.

Os céus prometem chuva dizia o velho rio
mas se fosse licor hoje já não sairia daqui.
Depois contigo nem preciso de dicionário
explicar a razão do coração que vem dali.
 
Ela não é Bel-Ami de Maupassant leitura 
que tanto me abriu os olhos em menino. 
Ela é a mon amie da sua melhor amiga  
e conhece tão bem Paris como Lisboa.
 
Talvez tivesse razão se se despedisse 
mas não venha dizer que não disse
que não há nada melhor no mundo 
que à noite meter-se na cama comigo. 



O vento continua a soprar
 
Escrevendo e ouvindo com emoção
Lucio Dalla, Caruso "E tira forte il vento" 

Brisa íntima do vento a soprar com a maresia 
a terra tinha o cabelo da noite lavado à chuva 
de flor da cidade e do perfume longe de casa.
A lua seria a nova luz que iluminava a poesia.
 
A pergunta estava na mesa do pensamento 
e esperava resposta na gaveta dos sentidos 
- Se forte foi o vento que desinquietou a lua 
ou foi a lua que do luar enfeitiçou o vento?
 
Se foi o vento que à lua tirou a paz do coração
soprando do mar vizinho pedindo que fosse sua?
Se a lua que vestia o seu vestido mais apertado
com as sombras do andar despertava toda a rua?
 
O vento continua a soprar mas a lua agora é outra 
A que guardou dentro o vento e lhe ocupou a alma. 

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