terça-feira, 8 de agosto de 2023



Mapa da mina
 
Esta mina escondida não é de cobre 
nem não pouco de mineiros verdadeiros 
- Cara enegrecida e pulmões rebentados.
 
Esta mina é de ouro e é exclusiva
dos amigos e camaradas do partido.
Os seus mineiros usam fato e gravata.
 
Os que são mineiros verdadeiros não viajam. 
A sua viagem é de casa para a mina e da mina 
para casa, por vezes com paragem na taberna. 

Com os colegas nem imaginam da importância 
que tem em se saber usar o mapa da mina
dos fundos europeus nos corredores de Bruxelas.
 
Não é por acaso que aqui com humor se diz
- Os rapazes estão na mina! Trinta anos depois 
os rapazes já crescidos continuam a minar.
 
A guardar todas as receitas e lucros-extras 
para os filhos e canalizadores lambe-botas.
Esta mina de dinheiro é à grande e à magyar.



Salta da panela sapo

Primeira versão
Cada panela com a sua tampa
Cada tacho com o seu guisado
Cada sopa com o seu sapo.

Segunda versão
Salta da panela sapo, deixa-te de ser merda!
Explica porque carga de fogão a gás de rua
é que aguentas até ferver a tua água em latão 
até ficares cozido que nem um rato no caldeirão 
cozinhado para seres comido pelo fiel comilão?
 
Com os olhos amarelados e cor da terra e da lama 
o sapo-bufo está feito ao bife? Não queria mais nada! 
Feito para tempero para os ossos dos cães de raça
que quem o come em chibo não o come em bode!  
 
Se não sabes sair a tempo da zona deixa andar 
se não te revoltas a tempo do lixo que é a tua vida 
- Antes assim que pior já dizia o velho Assis - 
não te venhas queixar depois como puta arrependida.
Vem-te com a sapa bonita, mas primeiro sai da panela. 



As pedras para calcetar 

Na escolha entre territórios e paz, eu prefiro a paz. David Ben-Gurion
 
Introdução 
Pela bíblia e pela história esta é a nossa terra 
Israel, a terra dos judeus, dizia muito seguro  
da sua verdade inquestionável, o colono israelita 
com a sua retórica explosiva e narrativa incendiária.
 
Conclusão
1. As pedras não servem apenas para calcetar 
ou construir. Na viagem Jerusalém-Hebron o autocarro 
à prova de bala foi atingido por uma grande pedrada. 
No checkpoint seguinte, já em segurança, o motorista parou 
saiu e viu os estragos. Nada de especial e seguimos viagem.
 
2. Depois de um simples, mas delicioso almoço
com uma família palestina, o nosso guia Mohamed 
levou-nos de volta - por entre as grades e controles - 
até à parte israelita de Hebron, para nos devolver. 
 
Já estávamos com o guia israelita Eric quando ouvimos 
explosões, tiros de metralhadora e os soldados israelitas  
a dirigirem-se para o “túnel”. As crianças continuaram  
a andar de bicicleta e os civis continuaram a conversar 
como se fosse a coisa mais natural do mundo.
 
3. De Hebron trouxe um ramo de oliveira.
Um ramo da paz impossível. Não haja ilusões.



Três breves notas
Israel. Palestina. Terra Santa.
 
Transcrição de 3 + 1 breves notas
que escrevi durante a visita
a Israel. Palestina. Terra Santa.
 
1. Do Antigo Testamento (Bíblia Hebraica)
sabemos que Ismael e Isaac eram 1⁄2 irmãos. 
Ismael filho primogénito de Abraão e da escrava Agar
e Isaac filho de Abraão e da sua esposa Sara.
Se fosse hoje seriam pelo menos 1 e 1⁄2 inimigos.
 
2. Do Antigo Testamento aprendemos
- Olho por olho, dente por dente.
Traduzido para os dias de hoje seria
1 olho judeu = pelo menos 100 olhos palestinianos.
 
3. O Mar Morto a encolher dia após dia, ano
após ano, um desastre em câmara lenta.
Junto ao Mar Morto pensei sem inventar
será o Mar Morto o símbolo do destino de Israel?
Será uma questão de tempo e demografia?
 
Por fim, sim há muita história mal contada
muitos dos milicianos palestinos são terroristas
mas com os seus 700 km, o Muro da Cisjordânia  
chamado o “Muro da separação" ou a "Cerca 
de Segurança" é um imenso Muro da Vergonha!



Ady em Nagyvárad 
(Homenagem a Ady Endre)
 
1. o pescoço fino de girafa giraça polvilhado de gema-sal
de flaminga flamenga com flauta e doce de girassol.
Se há sítio no seu corpo que respira erotismo total 
fatal como o destino é de certeza o seu pescoço sensual.
 
2. Nas redondezas com rebanhos de ovelhas 
Ninhos e mais ninhos das lindas cegonhas
As montanhas verdes beijando o céu azul turquesa 
As terras prontas preparadas para as novas colheitas.
 
3. Em Nagyvárad quero escrever um texto que me faça lembrar Ady
Poeta que conheço mal sabendo foi com ele e József Attila 
que há mais de 40 anos comecei a descobrir a poesia húngara.
 
Destacar as preciosidades da Art Nouveau de Nagyvárad 
que te faça recordar o teu Paris de início de século
com Adél mulher, a tua musa Léda por ti denominada.
Da Belle Époque escrita e cantada antes do título dos jornais
do embriagado grito colectivo: C’est la guerre 
que não querias não apoiavas e estavas contra.
 
Sublinhar a tua Budapeste de fim do ciclo de saltimbanco 
com sífilis e pneumonia, outros males menores, álcool e nicotina.
A jovem Berta esposa, aliás Csinszka sempre por perto 
que ao lado da tua cama até às últimas segurou a tua mão.
 
4. Agora já não terias alfaiates para substituir os teus fatos coçados 
- do pub ou da vinoteca onde estás e fumar já não podes -
não tenhas pena que tens melhor fatos prêt-à-porter ecológicos 
feitos na Ásia por crianças sorridentes com sorriso amarelo.
 
Não te lamentes, se fosse hoje serias um odiado 
perseguido pela imprensa raivosa do regime  
por imoral e depravado e vende pátria anti-nação.
Um renegado por escolheres Paris em vez de Moscovo
agente ao serviço de forças estrangeiras do ocidente (Nyugat).
 
Hoje na Hungria não terias nem um seixo para lançares ao ar 
quanto mais uma mãcheia de terra para lançar sobre o teu caixão 
país que com o apoio da grande maioria foi rebatizado Orbanistão.
 
5. Magyarország népe meddig lesz
Kalitkás seregély-fiók? (Ady Endre)
Até quando será o povo da Hungria 
Um estorninho preso na gaiola.



A Madeira vale um sermão 
 
1. Vir à ilha foi sempre um momento especial.
Sabemos da incontornável história francesa 
de que "Paris bem vale uma Missa". 
Eu acrescento feito navio do meu púlpito virtual  
que a Madeira vale pelo menos um sermão 
com a mão e os óculos de bispo no Missal.
 
2. Como ando muitas vezes distraído 
só agora em Ponta do Sol fiquei a saber 
que o mar não tem cor, mas tem cheiro.
De ti do teu olhar sei do tom em cinza
e que o teu mar tem aroma de hortênsia. 
 
3. Formosa como tu Madalena do Mar, mas este  
é mais largo sem um só rio, mas muita água. 
Cascata da noiva ou da viúva de negro vestida
se o grande oceano se esquecer da promessa 
feita em alto mar, não fazer mal a quem trabalha. 
 
4. Aqui nesta ilha no meio do oceano plantada
assim como está tão brilhante e sem nevoeiro 
nem parece o Monte nem a Nossa Senhora.
Melhor somente essas elevações com o sol a pôr-se
a deitar-se por cima do seu planalto e montinhos.  
 
5. Escrever é também não adiar mais a narrativa 
da beleza da nascente da Levada, de olhar e caminhar 
pelo desafio arriscado entre os Picos do Areeiro e Ruivo 
de transpirar no mini-deserto da Ponta de São Lourenço.
É a redação possível da melhor geografia humana 
na despedida desta terra que tão bem nos recebeu.



Bizâncio, aliás Constantinopla, aliás Istambul
(5 breves das várias notas ali escritas)
 
1. Bizâncio, aliás Constantinopla, aliás Istambul.
Istambul é considerada ”A Cidade dos Minaretes”
terá cerca de 3100 mesquitas e em média
cada uma tem 4 minaretes. É só fazer as contas.
 
2. Na Mesquita Hagia Sofia recolhi material 
de divulgação do islamismo e contra os outros.
Hagia Sofia foi durante séculos a maior igreja
cristã do mundo*(igreja ortodoxa-grega).
 
Posteriormente foi transformada em mesquita
depois museu e desde 2020 de novo em mesquita.
Uma Mesquita bela por fora e belíssima por dentro.
 
*A criação desta igreja ortodoxa grega
originou o Cisma do Oriente que em 1054,
dividiu o mundo cristão entre ortodoxos
(igreja chefiada pelo Patriarca em Constantinopla) 
e católicos (igreja chefiada pelo Papa em Roma).
 
3. Segundo o governo turco o islão é a religião
de cerca de 99% da população, 78% são sunitas 
(1% são judeus, cristãos e não crentes).
 
É de valorizar a tolerância ainda existente na Turquia
mas sejamos claros, sem os imigrantes, 85 milhões 
de turcos são muçulmanos. Com estes números 
não há narrativas que valham muito a pena.
 
Nos termos da Constituição, qualquer cidadão 
tem o direito à liberdade de religião e praticar a sua fé.
O Estado é laico, não usa a sharia, a lei islâmica.
 
4. A Praça Taksim com o monumento à República
é mais que uma praça, é um símbolo histórico 
político e cultural de Istambul e da Turquia.
 
Disseram-me que pela Avenida Istiklal, um exemplo 
de modernismo, miscelânea e cosmopolitismo 
passam diariamente 3 milhões de pessoas.
Pelo que vi não me custa nada acreditar.
 
5. O Grande Bazar era visita obrigatória. 
Dos maiores e mais antigos mercados cobertos do mundo
com 60 ruas e 5 mil lojas. Com tanta gente e confusão
tantos comerciantes e tanto encontrão, a visita foi rápida.
 
Depois da visita ao Bazar das Especiarias, Bazar Egípcio 
fiquei sem dúvidas, ser muito grande não quer dizer 
ser melhor do que o mais pequeno. Gostamos muito  
e até o almoço (kofte) numa rua das redondezas
foi um dos melhores que comemos em Istambul



Tantas vulgaridades

Não se discute Deus e a sua virtude; não se discute a Pátria 
e a nação; não se discute a autoridade e o seu prestígio. Salazar

Saberão os agentes detentores do poder 
da riqueza, do dinheiro e ódios acumulados
os riscos potenciais e reais que correm 
se em tempo e atenção não tratarem bem 
da pobreza, dos pobres e desgraçados?
 
Ainda lhes cai uma revolução em cima 
liderada por um facínora, um demagogo qualquer 
cegamente seguido por boa gente desiludida 
mas também pelos soldados da sua futura 
tropa de choque, de marginais e malfeitores 
pernas, braços, violência barata e de fácil aluguer.
 
Pessoas com coração, olhos e mãos como nós 
mas com cabeça revestida do pior alcatrão 
prontos a seguir em frente e sem perguntar 
tomar o poder pela força para sentirem que mandam. 
Pela grande revolução de extrema: direita ou esquerda. 
 
É tão bom dizer tantas vulgaridades pela boca fora 
pela barriga dentro e pagar tão pouco em troca. 
Futuro, que mundo será dos filhos dos nossos filhos?




Palavras recolhidas e escritas entre 2018 - 2023

Sem comentários: