terça-feira, 8 de agosto de 2023

 

Estes gajos são a caixa-negra

 
Estes gajos acreditam tanto em Deus 
como eu acredito no diabo. 
Acredito muito, mas muito mais  
nos diabos em figura de gente.
 
Aqueles que nem chegaram do inferno 
mas como traficantes de destinos
de homens e mulheres desesperadas.
Miseráveis, para lá nos querem levar. 
 
Maus como uma concentração perigosa
de mil cobras, serpentes e víboras do pior 
por vezes de lencinho branco e barba feita.  
Perfumados, botões de punho e boas maneiras. 
 
Estes gajos não são mais que a caixa-negra 
do avião que se despenhou bruto no betão. 
Quando se descobre o que se passou 
já está tudo fodido, estamos feitos em merda.
 
Eles continuam no seu jogo preferido 
o desporto diário de a todos aldrabar. 
Estes gajos acreditam tanto em Deus 
como eu acredito no diabo.



Bem-haja universo

Frase: Até para se ser tonto tem de se saber ser.
Felizmente nos dias de hoje somos uns sortudos.
À boleia das redes sociais e da sua massificacão 
da participação e do acesso à vida do mundo virtual 
a terra fértil que nos rodeia está como nunca esteve.
 
Com colheitas abundantes do grande pensamento 
temos o celeiro repleto de filósofos e de filosofia.
Uma vaca muito cara que nem leite barato nos dá.
Tanta gente que sabe o que diz e diz o que sabe!
Bem-haja Ó invenção infinita do eterno universo!
 
Já dizia Einstein - quanto mais massa, maior a curvatura
que o tempo é relativo e deve ser amarrado à velocidade.
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. 
Em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta. 



Dogma e software*
 
Sim? Gostaria de sair e a cancela não abre. 
Escreve que não entrou carro com esta matrícula.
Um momento. Confirmo a informação.

Não pode sair porque não entrou.
Mas estou a dizer-lhe que estou cá dentro
aqui parado, sentado no meu carro. 
Não quer confirmar através do seu monitor... 
 
Acredita que Maria foi mãe sendo virgem? 
Se sim, acredite que quero sair sem ter entrado.
Silêncio… novo milagre e a cancela abre-se.
Erro do moderno software, força milenária do dogma? 
*Conversa na garagem do MOM Park - Budapeste



Provavelmente 
 
Provavelmente a história de Portugal confunde-se 
com a vida dos ricos-homens gente com linhagem. 
Isto de nascer em berço de ouro ou de prata 
é apenas para os filhos de um deus maior. 

Ou deus menor mas obediente e bem mandado.
Depois casam-se e multiplicam-se entre eles 
e elas - figuras naturalmente secundárias 
são normalmente verbos de encher chouriços. 
 
Façam como eu várias vezes fiz, vão a Sintra 
visitem o palácio, demorem-se a observar 
as caras de tontos dos reis e nobreza do reino.
Cavalos e éguas cansadas em reforma antecipada. 
 
Como cão sem trela em vinha vindimada
o mundo mudou menos do que se pensa. 
O engano de hoje, subtil é muito mais fino.
Fala-se de novos-ricos e de novos-pobres.
 
Provavelmente, distorcendo as palavras nunca ditas
do assassinado político-humanista sueco de então
- deve-se acabar com a pobreza, não com a riqueza -
que quantos menos pobres, melhor é para todos.



Para que serve a poesia?
 
Terão estas notas de algibeira que seguem 
imaginação criativa, nível intelectual
e qualidade poética-literária mínima
para fazerem parte do livro que vou publicar?
 
- Hoje tive uma reunião muito interessante
no decorrer da qual alguém disse: 
"Porque é muito importante 
para um país a saúde e a educação? 
Porque a saúde é o presente 
e a educação é o futuro." Bem-dito!
 
Se assuntos tão decisivos da vida 
não são tema para se escrever 
nem misturar com a poesia pura…
Digam-me, para que serve a poesia?

Hoje sinto que já tenho o dia ganho.
Como já não estarei cá por muito tempo
não usem lixívia para limpar a minha alma!



A bela e triste Godiva
 
A bela e triste viúva Godiva que antes de ser já o era 
percorreu nua montada a cavalo as ruas de Coventry. 
Só um cego é que a viu nas roupas como nasceu 
que por não cumprir pagou a ousadia com a cegueira.
 
Mas valeu a pena. Vale sempre a pena quando a alma.
O marido manda-chuvas e mau feitio cumpriu a promessa 
baixou os impostos - ouça senhor ministro das finanças.  
Digam lá se não foi bem empregue a nudez de uma Dama? 
 
Tão nua tão esbelta tão loura tão jóia preciosa 
tanta nobreza de sentimentos e tão generosa.
Tanta coisa boa para mostrar às ruas vazias. 
O manto protector foi a sua longa cabeleira.
 
O que eu não sabia é que à custa de Godiva 
vendem-se doces diversos bombons chocolates 
e outros artigos gourmet a preços de Black Friday. 
Os gulosos como eu já têm onde e como pecar.
 
Vende sapatos em sapatarias com a mesma marca
mas não se tem de ir nu nem sair de lá descalço.
Também para mim a preferida é a Godiva de Collier 
mas há mais obras com cavalos e a Lady em cima.
É tão bom haver momentos sem ter nada para dizer.



Banquete das cortesãs
 
Introdução: Ele era cada pepino santinho
de batina arregaçada e postigo entreaberto
no parapeito sem vedação nem camisola
pela horta ecológica dos tomates castanhos.
Grande festa. Fornicavam que se fartavam!
 
Continuação: Banquete das cortesãs doces coisonas
ou banquete das castanhas até ao pêlo descascadas
na diocese emprestada ao sexo e ao prazer apostólico.
Era cada tiro cada melro, cada dança cada orgasmo.
Não é por acaso Bella Itália que amor rima com Roma.
 
Santísimo representante de Deus na terra
Bórgia o papa presidiu ao banquete no Vaticano
oferecido pelo filho Cesare e presença da irmã Lucrézia.
Com finas túnicas e mantos de seda como prémios
regabofe ou bacanal e taças do melhor vinho
Para quem tenha copulado e mais leite produzido.
 
Eu mais púdico do que cristão digo sim, digo não
as vestes abaixo vão dos convidados do sexi-leilão
quem dá mais pela cuequinha a cheirar a constipação
e meter todo o pau até ao barrote da construção.
Fornica fornicador. Muito comiam os santos de então.
 
Conclusão: Baile com roupa não é baile nem é nada
tudo nu de coisinha e santo coisão à mostra
ou bem que é divino ou não é copulação.
Até o Bórgia-mor come, não passa fome
- As chamadas boas práticas da fornicação.



Albertina de Viena
(Apontamentos de uma nova visita + Picasso)

Olhava com atenção o quadro escuro de Rembrandt
uma mulher avantajada quase nua, mas com gosto 
frente a um fogão de sala, uma fonte talvez um poço.
 
Na sala ao lado um Goya para nos surpreender 
se antes não soubéssemos que o pintor espanhol  
imaginou a noite para tudo se fazer menos dormir.
 
E felizmente cá temos de novo Picasso 
de quem nunca vamos dizer chega
mas digo-te eu que não sou ninguém. 
 
Se fosse agora velho-jovem engatatão estavas feito 
e provavelmente na prisão para o resto da vida.
Isto de levar miúdas menores para o estúdio 
e depois para a cama tem muito que se lhe diga.
 
A desejar o mar-entre-terras para se libertar
com a nova namorada a fingir estar-se a afogar 
na esperança da mulher oficial de nada desconfiar
como se fosse assim tão fácil uma mulher enganar.
 
Do cubismo esqueci as palavras exactas de Modigliani 
mas estava ali escarrapachado à frente dos olhos.
A boca da nova musa mais parecia uma tesoura de bicos 
ou novo modelo da espinha de peixe no prato comido.
 
Tu tanto ou mais atraente do que a terna Jacqueline
e eu feliz a varrer a rua, a entrada da vossa casa.
Ser porteiro que atento e fardado abre a vossa porta.
Ao museu Albertina de Viena vale sempre a pena voltar.



Programa da rainha do povo
 
Pergunto-me como posso avisar o meu vizinho
que também não tem o hardware apropriado 
e anda distraído com os futebóis das arábias
do hardcore do sex-têvê do festival da eurovisão.
 
Como posso assertivo divulgar que Portugal
está muito moderno, muito ousado e europeu
com um conan garanhão, fera mansa a ganhar
e o clímax no colchão molaflex de beata a gozar.
 
Se não entendeu eu explico que sou pago para isso.
No divã a diva perfumada, televisiva e bem vestida 
com vontade de abraçar a parceria público-privada
do clitóris a cantar no programa da rainha do povo. 
 
Há os que não fodem nem saiem de cima.
Aquele pelo menos não fode nem se aproxima.
- É como se a república do velho Portugal
fosse das bananas nos colhões do festival.
Ouça, quer um guia espiritual, sexual ou virtual?



Robusta discussão 
 
Por causa de uma robusta mediática discussão 
de um sujeito qualquer machista de profissão 
contra uma senhora colega pivot de televisão.
 
Ela bela até se mostrou para quem a quis ver
na banheira a tomar banho em perfeita composição
é assunto que tenho seguido com alguma atenção.
 
Digam lá se não sou um gajo atento ao algodão.
Da história que aqui deixo de nacional dimensão 
ficou-me ainda um comentário em rede que gostei. 
Transcrevo - “logo ele que é lindo como o enxofre”.
 
O químico súlfur encontra-se em estado sólido 
em pó como a eletricidade do alto do seu forte
e diz a boca aberta que não ter medo de ninguém.
O bolor de maldizer abriu de chofre o lixo do cofre.

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