quarta-feira, 10 de setembro de 2014

XVI. A Porta Aberta a Deusa e a Sobremesa



1. Porta aberta

Quando a porta está aberta
há sempre uma chave a mais
que não faz falta nenhuma
quando a amante está à espera.

Eram rosas soltas ao vento.
Eram libiscos e dálias vermelhas.
Lábios amargo-doces pintados
colados às abelhas dos meus.

Na areia, o sal molhado dos corpos
fazia crescer a salmoeira da língua.
Havia um comboio de paixão infinta
escondido, a brilhar nos teus olhos.

2. Deusa

Cumprindo a promessa antiga
de ficar até ao fim da vida
até ao corredor da eternidade
com o seu amado povo.

Lentamente de mansinho
com todo o esplendor azul da água
a deusa do povo desceu as escadas
retirou a túnica de linho-virgem
e disse: aqui estou. Sou vossa. Sirvam-se.

3. Sobremesa

Falcão da rainha palácios e peregrinação.
Saudade e beijos mil, paixão a saber a sábado
pelo veneno poção da dança do escorpião.

A mesa ainda antes da festa da inauguração
perna assada de ganso com couve vermelha.
A meia luz, a sobremesa há muito prometida.

Era um mundo moderno pragmático, em on-line
até a poesia se pagava com cartão de crédito.
Depois olhar para ti como um rio ou um mar
onde manso ou salgado, todos queriam navegar.

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