quarta-feira, 10 de setembro de 2014

V. A Maçã o Segredo e a Tapeçaria



1. Maçã

O saber pacientemente cultivado do olfacto
despedindo os braços ao aproximar o porto
ficou para sempre retocado de negro

com o perfume dos teus olhos
e o sabor da tua pele ausente.
Folha meiga de avelã aveludada.

Com a rota dos sabores do teu corpo
e o azeite virgem das tuas pernas.
- A maçã que eu gosto tem de ser azeda
e depois ser doce até à boca envinagrada.

2. Segredo

Chegou à estação no momento da festa
da entrega fraterna e fina do sonho
com a oferta de todos os beijos de prata.

A liberdade com os lábios lascivos da lua
que para ficar ainda mais a dois com o desejo
corre as cortinas no corredor da impaciência.

Porque na torre é a hora de me perder em ti.
O cobre do meu segredo mais bem guardado.
O teu sorriso é onde quero passar a sonhar.
Pátria nova para ficar e viver até ao último dia.

3. Tapeçaria

A madeira do pinho quase mansa das mãos
descia a tapeçaria oriental das tuas costas
e descansava na almofada da sala de espera
junto à parede azul da joalharia da cintura.

Entrava na sapataria da praça com os teus olhos
à procura do provérbio assírio do amor livre
que agora se perdia pelas ruas estreitas da cidade.

Com a teologia decorada e as espadas da compaixão.
Com o infinito perfume que nos chegava da fonte.
O inventário que nos fazia a acreditar na eternidade.

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