quarta-feira, 10 de setembro de 2014

IX. A Noite o Vidro e o Salão de Fumo



1. Noite

De noite na escrivaninha escrevia longas cartas
com os sentidos, sem a negação fria dos sábios.
Cartas de amor, das margens intimas da decoração.

Que tinha sonhado um banho partilhado sem criadas
sentido o desejo, a humidade fina dos seus lábios
na ponta das orelhas, na barriga com penas de pavão.

Foi então que a princesa saíu do quarto
de branco vestida e fartos peitos à mostra
com séculos e séculos de gesso dourado
e muita riqueza para gula do novo rico.

- Eram bonitos os olhos escuros da guia.

2. Vidro

Urbanização matinal e população diurna
habitava a guarnicão neo-gótica que demarcava
os montes fronteiriços do seu território sagrado.

Dama de companhia com linha e agulha
a coser para subir a saia-cambraia da bainha
a cozer couve-flor no fogão da alimentação.

Terra de piscicultura e fábricas de vidro
Schiele nas encostas precoces da decadência
dizia de olhos fechados e tinta nos dedos
a Wally por modelar mel de acácia tão boa:

- Deito-me ao anoitecer nas nuvens brancas
na espuma doce da tua cerveja de algodão
e levantas-te vermelha em pêlo no fogo do linho
na intensidade de todas as aguardentes do vinho.

Foram corridos os dois da cidade sem piedade. 

3. Salão de fumo

Caça pesca e a instalação da luz eléctrica
fingindo ser prima de princesa cartaginesa
que a beleza era afinal rara entre a fidalguia.

Profecia popular liturgia e pijamas de seda
pela olaria dos caminhos de gente fina
sem retocar, era de meter medo aos lobos.

Com condessas, putas caras e moedas de ouro
criadas camponesas e outras filhas do povo
peparadas para tudo, até para fugir da vida.


Pelas janelas discretas do carvão do castelo.
Pelas escadas de pedra da derivação da morte.
Poder ser cachimbo, diversão e salão de fumo.

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