1. Memória
Os peitos moldados
das meninas da praça
de mamas à
mostra, tinham na tinta preta
uma mensagem
justa escrita contra a guerra.
A dádiva ou alibi da surpresa desses dias
de raspar até ao
fim a alma da memória
que chegou descalça sem se anunciar.
Agora tetas não há
nada mais para raspar
com a ilusão que
um dia talvez seja melhor.
Sem
exibicionismo, a vulgarização da merda.
Sabor de macieira
mais pecado e menos virgem
de ervas verdes
de abismos, margaridas e abrigos.
Paixão acabada de
encharcar pelo forte aguaceiro.
É tão bom ficar
com as roupas coladas ao traseiro.
2. Alecrim
A descer bela
flor todos os santos ajudam
a subir nem o
diabo, menos nas dunas
nas arribas do
teu corpo. Assim começava
pela manhã, a
gaivota ousada do teu sorriso
o musgo húmido na
aldeia das tuas encostas.
O tricô do tricotar das malhas dos teus olhos.
O aroma alecrim
das tuas ruas de prata
do teu pátio
repleto de infinitos tesouros.
E continuava com
o teu sol e o meu sal
na marginal do
meio-dia, a noite da lua cheia.
Na velha pedra da
saudade podia ler-se:
- Se não sonhou
não pergunte nem escreva
abra o coração e
deixe-se ficar a dormir
3. Dilúvio
Esguios bravos e
masculinos, os pinheiros
eram tão altos
tão lisos tão altivos
que quase tocavam
nas coxas da lua
e até o cão de
estimação da vizinha
desejava ter
orelhas verdes pinhos e picos
em vez de chorar
e plagiar versos de amor.
Enquanto o
dilúvio de ontem à noite
fazia sérios
estragos nos bairros da cidade
os outros dormiam que
nem pedras de betão.
A morte
insaciável, inquisidora e em roda livre
fechava ao povo a
fuga, a única saída do vale.
A tua ausência inundava de lama o meu coração.
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