domingo, 22 de março de 2009

CHE CAMILO & BUDAPESTE


1. Mesmo na época mais acesa e mais autêntica dos meses
de festa e liberdade de Abril e depois o fascínio e a devoção
eram tão fortes que não tive no meu quarto o poster de El Che
o Guerrilheiro Heróico que cada um de nós queriamos ser.
Perdi o conto às vezes que comecei a escrever as palavras
o tributo que tanto queria dedicar e nunca consegui.

A sua coragem o desapego aos bens materiais.
Ele era o clarão da esperança no inverno da noite
o filme a preto e branco da Sierra Maestra do Diário
da Bolívia. O Comandante era demasiado ícone
para ser escrito por um jovem simples como eu.

2. Mais tarde já em Budapeste recebi de mi hermano
Arturo de Habana as suas obras em nove volumes.
Descobri um novo Guevara. Não era apenas o Che
do cartaz da fotografia eterna de Alberto Korda.

El Comandante mito de tantos intelectuais
mitologia de tantos jovens estudantes e operários
do marketing politico perfeito do culto divino
e dos murais gigantes do sonho e do engano.

Guevara era também o líder revolucionário
metódico e profissional frio e implacável
para ou os pretensos inimigos a revolução.

3. Com os créditos do Comandante Guevara
do conhecimento do que tinha lido tenho uma história
linda juvenil que não consigo não contar.

Uma bela noite um grupo de estudantes de economia de Paris
visitou o disco de 6. Feira à noite no Kollégium da Ráday.
Havia um português que não tocava piano mas falava francês.

Discutímos as perspectivas da revolução mundial
a sua exportação altruista para o 3. Mundo e bebemos
em copos de plástico vinho do bom. Egri Bikavér.

Foi quando senti ter a bola na marca de penalty
que se golo poder ganhar o jogo da argumentação
rematei com uma frase do Diário que sabia: "se avanço
sigam-me, se paro empurrem-me, se recuo abatam-me".

Acabámos por ficar dois no final da noite no início da magia.
Um inesperado sucesso da táctica e da estratégia revolucionária!
Une jeune belle et jolie de Paris muito mais fascinada pelo Che
que por mim mas tive sorte quem ali estava não era ele era eu.

Desde então nem as francesinhas no prato na cidade do Porto
de que tanto gosto me sabem tão bem como a francesinha
daquela noite de guerrilha por serras bosques e colinas brancas.

4. Na verdade nessa época eu já estava mais interessado
em Camilo Cienfuegos a quem dediquei poemas que depois
não guardei na triologia El Comandante del Pueblo.

Durante anos em momentos carregados de emoção
e partilha acompanhado pelos meus amigos cubanos
eu também lançava da Ponte Szabadság a que ficava mais perto
da universidade uma flor - a Flor de Abril - como faziam
todos os pioneiros e jovens cubanos onde quer que estivessem.

No dia 28 de Outubro o avião que transportava Camilo
desapareceu no mar. Nunca se encontrou nem o corpo
nem os destroços. Em 1959. No dia seguinte completei um ano.
Viviamos no ignorado e insignificante Portugal de Salazar.

5. Eu não acredito! Cheira-me a teoria de conspiração de cordel
mas ainda hoje se especula se foi um acidente ou atentado
se os irmãos Castro não terão estado envolvidos.
Se um dia os livros de história os absolverão ou não?

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