sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ONDE A CIDADE SE BANHA


"Vou pelas ruas da noite
com basalto de tristeza"  in "Rosa da noite"

Escreveu a correr   que só por dentro da noite
percorrendo a pé   a argila seca do pensamento
seria possível fingir   ignorar tamanho mistério
vestindo as metáforas   nas cercanias dos lábios.

Bordando a sombra   com as luzes da ilusão
recolhidas à pressa   durante o intervalo para almoço
rematando com fios   a madrugada da inquietação.
A ordem milenar   com barbas de consentimento.

Frente à deusa seria?   Sempre nova da paixão
sem a censura do pudor clerical   e nada a esconder
humana assim responderia   em texto ao amor
com as cores profundas   do erotismo e fascinação.

Levar-te comigo   convencer-te a ficar para sempre
na minha casa   com o arranjo verbal das palavras
o vinagre dos sentimentos   ensopados em vinha d’alho
e o violino húngaro nocturno     do teu sorriso mais claro.

Guardar na mala   as vozes doces do rio grande
onde a cidade se banha   e nós mais tarde um no outro.
O motorista de longo curso   com horários a cumprir
já devia estar na estrada   e ainda estava sentado à mesa.

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