sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A LÍNGUA É DA SERPENTE


"É de linho o teu verso fiado no destino
dum país ao luar dum fio de azeite"
 in "Retrato de António Nobre"

As palavras embebidas   em aguardente caseira
aquecem e desfazem-se   na escuridão dos sentidos
no alçapão transparente   das ideias mais profundas.

Mas não negam aquilo   que na verdade sempre foram
cumplicidade e entrega   troca de curtas mensagens
o enxofre da vinha   o martelo da madeira mais dura.

Para bater a carne   espalhar pelo tampo da mesa 
do tempo da fome sem força   para morrer
dar nas canelas   dizer que não ao Grande-irmão.

E então não era   que sentada no barril de carvalho
na cor turva cultivada   no azeite fino dos seus olhos
não resistia   e dócil se deixava comer pelo leão!

Sagrado que enquanto comia   não falava nem ouvia
os seios euforia   debaixo da bata bem apertada
a dar de si    os bicos não poderiam estar mais tensos.

Nem o melhor detergente   do mercado grandalhão
a luz perversa dos olhos   a lei cega do olhar.
Não importa o que pensam   a língua é da serpente.

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