sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ENTRE MUITO VERBO CALADO


"Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão"  David Mourão-Ferreira

Na selva da solidão rasteira
onde se procuravam à toa
por sortilégio da flôr não se viam 
em desencontros de pouca sorte.

Entre muito verbo calado
e tanta palavra adiada
montes de restolho a secar
para melhor flagelo dos pés.

Como as toutinegras de ontem
as mãos perdiam-se intactas
na topologia dos segredos.
Perdiam-se aos poucos na chuva.

Escrevia com um pau na terra
fica comigo até à eternidade
que termina na próxima noite
no dia do mito do nosso reencontro.

Ao longe em palavras e torresmos
quase pretos de tanto mexer os dedos
a saudade despia-se portuguesa
na torre a sul de todos os ventos.

Sem comentários: